Foto arquivo pessoal |
As cidades do Brasil privilegiam a fluidez dos veículos automotores, sendo que as rotas dos pedestres e dos ciclistas não são delineadas, muito menos sinalizadas.
Os pedestres e os ciclistas, excluídos da mobilidade urbana, sem
infraestrutura como calçadas, ciclovias, ciclofaixas, sinalização e respeito
enquanto cidadãos, caem na marginalidade e a palavra “marginal” tem a mesma
semântica de “ilegal”.
Tudo isso é consequência da exclusão dos modais “a pé” e “de bicicleta”
no planejamento urbano de nossas cidades. Pedestres e ciclistas são excluídos,
são “o resto”, portanto marginalizados e daí caem na ilegalidade. Cidadão sem
direitos é consequentemente um cidadão sem deveres.
Portanto, embora errada a atitude da população em não respeitar a
sinalização de trânsito, é importante entendermos que essa desobediência civil
é uma evidência de que está passada a hora de se mudar o conceito do uso do
espaço público de nossa cidade.
Falta educação, mas falta adequação também.
Veja a discrepância!
Os veículos particulares que paralisam a cidade, são responsáveis por 70% da
poluição do ar, atropelam e matam pessoas e geram um custo social
enorme. Mesmo assim a política pública não estimula o transporte público, e
concentra seus investimentos em novas avenidas e viadutos que, muitas vezes,
não permitem sequer a passagem de pedestres, de ciclistas ou mesmo de ônibus.
Nunca em minha vida vi aqui na cidade um fiscal sequer advertir
algum motorista que, ao virar à direita, tenha desrespeitado o cidadão na faixa
de pedestre. Muito pelo contrário, a atitude dessa autoridade de trânsito em
geral é de acelerar essa conversão para melhorar a fluidez dos veículos.
Esse modelo está tão enraizado como “normal” na população, que todos os
pedestres atravessam as ruas com medo, correndo, acuados e “saindo logo da
frente”, atitudes de excluídos.
Veja bem: eu estou focando os pedestres, pois caminhar é a forma mais
natural de se locomover, imagine então pedalar! Se o pedestre é excluído, o
ciclista é ainda mais.
A única forma de mudar esse cenário é vivenciar o problema. Assim, antes
de condenar a atitude “ilegal” dos pedestres e dos ciclistas, é necessário
experimentar “in loco” a mobilidade urbana dos excluídos.
Esses “excluídos” são a maioria da população aqui em Pedro Leopoldo , uma vez que 70%
dos deslocamentos urbanos são feitos a pé, de bicicleta e de transporte coletivo.
O principal equipamento urbano que um pedestre necessita são calçadas e
estas são da alçada do dono do terreno, ou seja, enquanto investe-se um zilhão
de dinheiro na estrutura para os que vão de carro e muito pouco para o
transporte público, o estado cruza os braços para as calçadas e nem se dá ao
luxo de fiscalizá-las.
Para finalizar, não há esperanças de respeito aos ciclistas por uma
sociedade que não respeita os seus pedestres!
Fontes: Revista Bicicleta e este que lhe escreve: Paulo Pereira Netto
Nenhum comentário:
Postar um comentário