Então veio o carro, com tudo de bom e de ruim que ele representa. Árvores foram derrubadas, rios foram sepultados, as praças, os caminhos cobertos por asfalto, o chão escuro e estéril que sinaliza o território reservado para as máquinas e proibido para as pessoas. Assim também a quantidade de bicicleta foi diminuindo nas ruas devido ao aumento vertiginoso dos automóveis a transitar pelas vias amedrontando os ciclistas que preferiram aderir ao carro para ter mais segurança no seu deslocamento. Com isto a nossa pacata cidade vai se transformando em uma cidade com trânsito caótico e nervoso deixando de ser humana e se materializando cada vez mais.
As crianças não podem brincar mais nas ruas, não podem pular corda, não sabem mais o que é ir de bicicleta à casa de amigos, para escola ou para comprar um sorvete. Os novos donos da cidade, vestidos de metal, vidro e fumando combustível, não as permitem, assim também a violência que está tomando conta de nossa cidade, infelizmente.
Não existe em nossa cidade uma rua sequer que seja preferencial para crianças brincarem, uma rua onde pedestres, e ciclistas possam transitar com segurança e que o trânsito de autos seja só para os moradores.
As cidades foram feitas para as pessoas. Os carros vieram depois e deformaram os espaços urbanos. Olhe da janela agora e veja quanto espaço há para circulação das pessoas e quanto dele está reservado para os automóveis. Se a cidade é feita para a circulação motorizada, a tendência das pessoas será inevitavelmente essa. O resultado é o que conhecemos como hora do rush.
Em vez de perceber no que a nossa cidade está se transformando e contribuir para um lugar melhor para nós e nossos filhos, optando por substituir o carro por opções alternativas sempre que possível, a maioria das pessoas pensa apenas em comprar um carro mais confortável e se isolar dos problemas.
Ligar o ar condicionado, fechar os vidros e aumentar o som. Ignorar o que está do lado de fora, fazer de conta que não está lá. Em outras palavras, fugir: que bela solução.
Sua cidade depende de você.
Se você se cansou de sua cidade, faça o possível para torná-la melhor. Um momento em que seu carro te deixar na mão, por exemplo, pode ser uma oportunidade de ver a cidade de outro ângulo, em vez da viciada experiência de se trancar em um ambiente climatizado e se isolar do mundo até chegar a outro local de confinamento.
Aliás, foi exatamente o que aconteceu comigo: em um dia em que me aposentei, resolvi usar a bicicleta para ir a todos os lugares possíveis com a mesma e vi que não era tão complicado como parecia. Foi aí que tudo começou a mudar. A cidade mudou para mim e eu mudei para a cidade e para os que estão em minha volta.
A bicicleta não é a solução para todos os problemas da mobilidade urbana, mas a cidade não pode renunciar a grande contribuição que ela está comprovadamente a dar: a de facilitar a vida, em todos os sentidos, em curtas e médias distâncias e também por que não dizer em aumentar a segurança dos que nela transitam, pois as pessoas de bicicleta têm melhores condições de observar o que está acontecendo nas ruas e assim proteger aquelas crianças que por acaso estiverem em perigo.
Mais um agradecimento de coração aos que prestigiam esse blog e aos que leram essa matéria.
A ti Pai, agradeço agora e sempre pela luz que me envias para que eu possa continuar na minha luta.
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