De vez em quando ouvimos que não são justificáveis os investimentos em infraestrutura
cicloviária porque “não se vêem ciclistas nas ruas”... Tal afirmação, contudo,
está errada porque, geralmente, só se vê aquilo que é procurado - e o
imaginário social predominante só nos ensina a ver motores quando tratamos de
mobilidade. Tal afirmação é discriminatória, porque mesmo os poucos ciclistas
que circulam em determinadas vias públicas são portadores do direito de se
movimentar com segurança e conforto para ter acesso à cidade. Mas essa
afirmação também é conformista, pois acata servilmente um estado de coisas sem
questionar seus fatores determinantes e se esquiva de apontar soluções.
É preciso ver, no sistema viário, os ciclistas que não estão ali por
serem reprimidos, ou seja, aqueles cidadãos que gostariam ou precisariam usar
bicicleta, mas que não o fazem por não encontrarem condições adequadas para
tanto. Demanda reprimida, ciclisticamente falando, significa a quantidade de
ciclistas restringida ou coibida pela inexistência de políticas públicas
cicloinclusivas. É fácil compreender que a ausência de medidas arquitetônicas
ou indicativas para proteger os ciclistas nas ruas e avenidas e que o trânsito
intenso e veloz de motorizados impedem, dificultam ou desencorajam as pessoas a
pedalarem mesmo em curtas distâncias, como é o caso em nossa cidade de Pedro Leopoldo.
A carência de pesquisas aprofundadas e sistemáticas sobre a mobilidade
urbana que, por custosas, deveriam ser encomendadas por organismos
governamentais, nos impede de oferecer dados mais precisos sobre a realidade da
demanda reprimida no país e em nossa cidade. Alguns exemplos, contudo, nos permitem dar uma ideia
desse fenômeno, que é bem conhecido pelos ciclistas envolvidos em debates e
ações pró-bicicletas.
Em 2007, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina/PR
constatou, através de 500 entrevistas, que 56,5% dos motoristas londrinenses
“optariam pela bicicleta caso houvesse um sistema cicloviário na cidade”.
Em Blumenau, no ano de 2002, a Associação Blumenauense Pró-Ciclovias entrevistou 602 estudantes de uma escola particular e recolheu, de 48,5% deles, a afirmação de que “virão ao colégio de bicicleta quando houver segurança”.
Em 2008, a Celepar (Companhia de Informática do Paraná) ouviu cerca de 550 dos seus funcionários de Curitiba e obteve os seguintes resultados: 19,44% deles “usariam a bicicleta diariamente para ir ao trabalho se houvessem ciclovias seguras”, 27,78% o fariam “com frequência” e 37,30% o fariam “de vez em quando”.
Eu mesmo, em abril de 2013 aqui em nossa cidade de Pedro Leopoldo, ouvi 359 pessoas e obtive o seguinte resultado: 68% usariam menos o carro e mais a bicicleta para suas tarefas diárias se houvesse um sistema cicloviário na cidade.
Quantos pais e mães gostariam de conceder aos seus filhos a liberdade elementar de ir à escola de bicicleta, ao invés de ter de levá-los de carro ou de contratar transportadoras? Quantos trabalhadores gostariam de chegar ao seu trabalho em menos tempo do que a caminhada até o ponto e espera pelo ônibus caro e lotado? Quantos idosos gostariam de praticar uma atividade física saudável e, de quebra, ganhar autonomia de deslocamento? Ora, podemos até pular a etapa das pesquisas: basta instalar estruturas e equipamentos visando a segurança ciclística que constataremos o rápido aumento de pessoas usufruindo das vantagens individuais e sociais da bicicleta.
Em Blumenau, no ano de 2002, a Associação Blumenauense Pró-Ciclovias entrevistou 602 estudantes de uma escola particular e recolheu, de 48,5% deles, a afirmação de que “virão ao colégio de bicicleta quando houver segurança”.
Em 2008, a Celepar (Companhia de Informática do Paraná) ouviu cerca de 550 dos seus funcionários de Curitiba e obteve os seguintes resultados: 19,44% deles “usariam a bicicleta diariamente para ir ao trabalho se houvessem ciclovias seguras”, 27,78% o fariam “com frequência” e 37,30% o fariam “de vez em quando”.
Eu mesmo, em abril de 2013 aqui em nossa cidade de Pedro Leopoldo, ouvi 359 pessoas e obtive o seguinte resultado: 68% usariam menos o carro e mais a bicicleta para suas tarefas diárias se houvesse um sistema cicloviário na cidade.
Quantos pais e mães gostariam de conceder aos seus filhos a liberdade elementar de ir à escola de bicicleta, ao invés de ter de levá-los de carro ou de contratar transportadoras? Quantos trabalhadores gostariam de chegar ao seu trabalho em menos tempo do que a caminhada até o ponto e espera pelo ônibus caro e lotado? Quantos idosos gostariam de praticar uma atividade física saudável e, de quebra, ganhar autonomia de deslocamento? Ora, podemos até pular a etapa das pesquisas: basta instalar estruturas e equipamentos visando a segurança ciclística que constataremos o rápido aumento de pessoas usufruindo das vantagens individuais e sociais da bicicleta.
Lamentavelmente os administradores públicos têm agido para atender
apenas a demanda pelo uso do automóvel: quanto mais viadutos construídos para
tentar em vão desafogar o trânsito, mais pessoas sentir-se-ão estimuladas a
tirar seus carros da garagem ou, em tempos de aquecimento econômico, a comprar
um. O sistema viário e o ordenamento do trânsito demonstram que o direito
inalienável de ir e vir, assinalado na constituição brasileira, não é
equitativamente distribuído e que os interesses coletivos são soberbamente
sobrepujados em nome da liberdade individual: aqui, como em outras esferas do
convívio social, privatizam-se os benefícios e socializam-se os danos.
A falta de investimentos públicos voltados para a mobilidade ciclística
não é simplesmente uma omissão, é um contínuo programa repressor. A
reivindicação de infraestrutura viária e de integração com o transporte
público, de sinalização de compartilhamento, de programas educativos e de
fiscalização continuada não é apenas uma demanda corporativista, é um projeto
de construção da liberdade e da igualdade, ali onde a vida social flui: nas
ruas das nossas cidades.
Fonte: Revista
Bicicleta por André Geraldo Soares
Um comentário:
Sem incentivo dos governantes, fica "fácil" falar que não tem demanda, mas os números estão aí para comprovar.
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