É difícil resumir os meses que passei na Alemanha em um único post. Foram tantas situações, tantas histórias, tantos lugares que poderia escrever um livro sobre minha experiência neste país, que se mostrou surpreendentemente belo e acolhedor, apesar de não saber falar bem o alemão.
Percorri aproximadamente um total de 550 quilômetros, de bicicleta. E dezenas de viagens de trem, ônibus, metro, bondes e dezenas de kms a pé.
Pedalar pela Alemanha é assim: normal. Sem precisar brigar. Sem capacete. Sem militância e com segurança. Simplesmente normal, como caminhar. Aqui todo mundo pedala. Não importa a idade, a religião ou o que diz a previsão do tempo.
As cidades são lotadas de paraciclos, e os paraciclos são lotados de bikes.
É gente treinando, passeando, indo trabalhar, levando os filhos na escola, indo ao mercado. Tem de tudo e tem todo tipo de bike. Cidades funcionais, belas e que não sabem o que é engarrafamento. Entendo que o índice demográfico contribui para isso, mas de qualquer forma, é surpreendente observar o quanto a bicicleta está presente na vida do alemão.
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Civilidade e segurança
É um nível de civilidade e educação que surpreende qualquer brasileiro, mesmo os bem educados.
Aprendizado
Estou só de passagem, um observador que passa, invisível, pela rotina alheia. A Alemanha é muito mais do que eu esperava. É muito mais do que chucrutes e cervejas. Mais que belos rios, campos e parques bem cuidados. A Alemanha é uma aula de cidadania e educação. Onde o coletivo SEMPRE tem prioridade sobre o individual. Onde há respeito sem pressa. Confiança sem malícia. Qualidade de vida sem ostentação. E principalmente, onde todo bairro tem mais de um parquinho infantil para a garotada se divertir e, jamais um igual ao outro, sempre apresentando algo diferente para aguçar a curiosidade e a mente infantil e juvenil.
Foto: arquivo pessoal
Fico pensando no quanto somos “frutos do meio”. Por que conseguimos nos comportar de forma tão civilizada, tão educada, quando o ambiente favorece? Aí está a força do exemplo. Será que meu comportamento continuará sendo de tranquilidade, tolerância educação e generosidade quando voltar a pedalar pelas ruas agressivas de Pedro Leopoldo? Espero que sim. Espero que eu possa levar comigo tudo que aprendi nestas 7 visitas de 2 meses cada e convivência que fiz, desde 2009. Não racionalmente, mas no instinto. Nas reações que temos quando não há tempo para pensar e analisar.
Pois saber é fácil. Difícil é fazer a transição entre o saber e o ser!
Esta é a diferença que vejo aqui. Os conceitos de cidadania e espaço público não são conceitos. Eles estão no DNA das pessoas. Elas não precisam de tempo para pensar antes de agir. Elas agem simplesmente. E é belo de assistir.
O carro que vem na via e vai fazer uma conversão à direita, breca ao invés de acelerar, quando nota que o ciclista ou o pedestre se aproximam de um cruzamento. Todo e qualquer veículo para quando há um pedestre querendo atravessar. Se você está entrando ou descendo de um coletivo e demora por estar conduzindo uma criança no carrinho ou para tirar a bike do ônibus, ninguém acha ruim, nem o motorista, que é o primeiro a se oferecer para ajudar. Acima das regras, acima de tudo isso existe o respeito e a real capacidade de se colocar no lugar do outro.
E aí, os mais cínicos podem dizer: “gostou tanto, muda então!”
Não estou fazendo comparações, sei que somos consequência de nossas histórias e cada país tem a sua. Mas gosto de pensar que, para nós, brasileiros, é apenas uma questão de tempo. Que estamos no caminho certo e que nossa pátria, um dia, oferecerá a mesma dignidade e qualidade de vida para todos os seus cidadãos! E que eu consiga, de alguma forma, mudar e dividir tudo que estou absorvendo. Porque a mudança nunca está no outro, mas deve acontecer dentro de cada um de nós.
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