domingo, 5 de junho de 2016

#103 - Cidades para pessoas: o presente e o futuro da mobilidade

É o final do século XIX. Quando o automóvel surge e começa a ser comercializado. As cidades gradativamente remodelam-se de forma a abrir espaço para a nova promessa de mobilidade que se concretizava com as quatro rodas motorizadas. A possibilidade de se deslocar rapidamente de um ponto a outro era uma conveniência, que chegava para facilitar a vida dos que tinham condições de acessar o novo modal. Aos poucos, os carros aumentaram em número e tomaram conta do espaço das ruas e, no geral, das próprias cidades, fazendo crescer com eles a infraestrutura característica das áreas urbanas que desde então se desenvolveram seguindo um modelo carrocentrico.


O crescimento sem planejamento cria cidades dispersas e aumenta as distâncias, estimulando o uso do carro para percorrê-las e muitas vezes inviabilizando outros modais. Hoje, com a frota de automóveis estimada a atingir a marca de 2,5 bilhões até 2050, e a mobilidade uma vez garantida pelos carros cada vez mais imóvel entre ruas congestionadas e fumaça dos escapamentos, cidades de diversas partes do mundo começam agora a enfrentar o problema e a pensar em soluções para promover o desenvolvimento sustentável e priorizar as pessoas.
Para que essa mudança seja possível, contudo, desafios políticos, econômicos e culturais precisam ser superados, para vencer os obstáculos que ainda entravam a construção de “Cidades pensadas para pessoas”. Priscila Kichler Pacheco
Cidades Humanas

Atualmente, é desejo de muitos cidadãos que suas cidades sejam sustentáveis, acessíveis,
democráticas e humanas. O aspecto sustentável se refere ao desenvolvimento urbano considerando impactos socioambientais, no qual são observados os recursos naturais disponíveis e respeitando as necessidades das gerações futuras.
A cidade humana visa o resgate pleno do espaço público urbano pelo homem. No âmbito da Política de Mobilidade Urbana também é possível extrair elementos que permitam essa volta da posse das cidades aos cidadãos, principalmente quando confere "prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados" (Lei 12.587 / 12, art. 6 II) e no objetivo de "reduzir as desigualdades e promover a inclusão social" (Lei 12.587 / 12, art. 7 I)"
De acordo com a PNMU, todos os municípios com mais de 20 mil habitantes devem elaborar um Plano específico de mobilidade urbana e, segundo as diretrizes claramente definidas nessa Lei, deve-se priorizar os meios de transporte não motorizados neste planejamento.

Transformando a mobilidade urbana das nossas cidades.
O trânsito nas cidades é responsável por tragédias econômicas, ambientais e sociais. O tempo perdido parado no trânsito é uma perda de produtividade e mais negócios que poderiam estar se desenvolvendo enquanto a maior parte dos trabalhadores está parado na rua, emitindo gases tóxicos e outras substâncias tóxicas para a saúde humana. Além disso, estão se sentindo mal, estressados, nervosos, perdendo tempo valioso, se sentindo impotentes. Os níveis de estresse se elevam tanto que toda essa angústia e raiva se materializa em violência, brigas, graves acidentes, até mesmo fatais. Ou em mais doenças crônicas e agudas. O atual planejamento urbano que, por suas deficiências, acaba por priorizar carros, mata e fere pessoas, destrói a economia e o ambiente. Esta é a realidade.
Assim, a prática que alguns países utilizam, de restringir carros em determinados locais da cidade é necessário e é parte da transição para uma cidade com uso de carro reduzido e promoção da bicicleta. Já acontece em Londres (Inglaterra), Copenhagen (Dinamarca), Amsterdam (Holanda), Ottawa (Canadá), Freiburg (Alemanha), Milão (Itália), Barcelonha (Espanha), Nova York (Estados Unidos) e outras cidades. E esta acontecendo agora em São Paulo.
O que acontece é que as pessoas percebem a restrição do uso do carro como uma restrição no seu direito de ir e vir, e não é assim, não é isso! Essa restrição do carro é necessária para que outras formas de transporte possam ser estimuladas. E não adianta dizer que antes de restringir devem ser oferecidas outras opções. Se isso é possível, ótimo! Mas a restrição favorece a necessidade de se utilizar outros meios de transporte e favorece a necessidade de exigência de mais meios. É como um estímulo. É ruim, desagradável, injustiça? Não sei. Mas é necessário para a transição. A mudança de cultura é que é difícil. Se desenvolver dói. É natural. Você sai da sua zona de conforto para estabelecer outra forma de viver. Mas é assim que é o progresso em direção à sustentabilidade.
A conexão é novamente palavra crucial também na mobilidade urbana. Ruas, bairros, tudo deve estar conectado de alguma forma. Oferecer uma diversidade de opções na rede de transporte também é regra. Trem, ônibus, bicicleta, e caminhar quando for o caso.
Uma prática escandinava de mobilidade urbana é conectar escolas e parques com ciclovias (extraído de www.simbiocity.org). Além dos conhecidos benefícios ambientais, a bicicleta favorece mais a interação social, o lazer e a prática de exercícios, funcionando como um antídoto para o grave problema do sedentarismo.
Então, é conosco!
Depende de nós, cidadãos, tornar nossa cidade sustentável e saudável, e não das prefeituras. Existe conhecimento, bons exemplos a serem seguidos, basta apenas que nós cumpramos nosso dever, nos informando, cobrando informações e transparência, e exigindo a nossa participação nas decisões que só vão afetar nós mesmos, nossa família e nossas vidas.

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