Vivemos numa sociedade que tem sua base de funcionamento e sobrevivência na mobilidade, na possibilidade de movimentação, no direito de ir e vir, de enviar e receber. Quanto mais eficiente o deslocamento, melhor. Para isto necessitamos de um sistema de transporte.
Por razões econômicas, a nossa estrutura de transporte está praticamente toda baseada no uso intensivo de veículos motorizados.
Também por várias razões, principalmente por perda de eficiência, é necessário mudar a forma como são realizadas nossas mobilidades. Praticamente não há mais espaço disponível para manter funcionando, de maneira adequada, o sistema de transporte baseado no veículo individual motorizado.
O automóvel passou de uma ferramenta da sociedade para um competidor do homem; e o homem tornou-se dependente de seu competidor.
Hoje, a questão dos transportes transcende as mobilidades e implica na manutenção da vida em si. É necessário equilibrar o sistema buscando racionalidade das mobilidades e o uso sensato de cada modo de transporte, motorizados e não-motorizados. Torna-se impossível manter a "sociedade do automóvel" como ela está hoje.
É utópico, praticamente irrealista, pensar numa sociedade sem veículos motorizados. Não se trata de lutar para extinguir os motorizados, mas redimensionar sua forma, seu uso, a dependência insana que temos deles. Temos que retomar espaços urbanos para uso e usufruto da vida.
A importância da bicicleta
Hoje, há muitas cidades onde mais da metade do espaço urbano é ocupado por beneficiamentos para automóveis. Não raro o pedestre tem seu direito de ir e vir impedido ou mesmo proibido.
Somos todos pedestres. E mais, pelo menos uns 10% da população brasileira tem algum tipo de deficiência de mobilidade que praticamente os impede de sair de casa. A estes 10% devem-se juntar pelo menos mais 5% que são crianças e idosos que também precisam de cuidados especiais.
Para que a vida de todos tenha qualidade é necessário oferecer boas condições de mobilidade, e para alcançar este objetivo é necessário rever a forma de utilização de espaço e as dinâmicas do trânsito.
A bicicleta tem neste contexto um papel muito importante porque sua velocidade (média de 15km/h) está entre a velocidade de um automóvel (média de 25km/h em cidades grandes) e do pedestre (4km/h). Nesta batalha por espaços a bicicleta é o elemento técnico do trânsito que abre caminhos para pedestres e outros não-motorizados.
Qualquer proposta ou projeto que vise melhorar as condições de conforto e segurança para ciclistas deve levar todos em consideração, principalmente os não-motorizados. Pensar a bicicleta isoladamente é contraproducente até para a segurança do próprio ciclista, além de provavelmente levar a um confronto com quem deveria ser aliado: os outros não-motorizados. Mais do que nunca vale aqui "a união faz a força".
A Situação Atual
Para ter eficiência nas mobilidades é necessário aperfeiçoar todas as opções de transporte oferecidas, existentes ou possíveis. É contraproducente imaginar que uma única opção do sistema por si só resolve todos os problemas. O bom funcionamento de nossa sociedade depende do respeito à diversidade e particularidades. O contrário traz desequilíbrio, falhas, custo alto de manutenção e, não raro, violência.
A mobilidade por bicicleta ou qualquer outro modo não-motorizado é mais que uma opção; é um direito básico e incontestável. Não-motorizados não devem ser encarados como um problema para a fluidez do trânsito motorizado.
O número de ciclistas, assim como de outros não-motorizados, cresce a cada dia. Há inúmeras razões para isto, sendo as principais o baixíssimo custo operacional e a escassez de espaço individual e coletivo. Mas poucas facilidades para segurança e conforto são implementadas, e as que são ocorrem de maneira muito lenta. O grande direcionamento continua sendo aumentar o fluxo, a velocidade média dos motorizados.
Toda a sociedade está acostumada a pensar seus deslocamentos e o uso da cidade a partir da ótica do automóvel. Mudar esta ótica requer paciência e persistência.
O perigo
Aqui, como em qualquer parte do mundo, a bicicleta é tida como algo simpático, mas vendida como um tanto frágil, perigosa. Pesquisas demonstram que esta visão não condiz com a verdade. Bicicleta é um veículo e, como qualquer outro veículo, quando mal conduzido leva a riscos.
O desenvolvimento rápido e desordenado de nossas cidades está despertando a população para considerar outras opções. O desequilíbrio aumenta a predisposição para tomar riscos na busca de saídas. O automóvel não é mais a única solução e o transporte coletivo precário não dá as respostas esperadas. Nessa situação a bicicleta vem transformando-se em possibilidade muito interessante. A pergunta é: o que acontecerá se parte da enorme demanda reprimida sair pedalando nas ruas?
Boa parte dos que assumiram a bicicleta como modo de transporte acabaram por descobrir na prática que os riscos existem, mas que são muito menores do que é normalmente dito.
Autor: Escola de Bicicleta link:http://www.escoladebicicleta.com.br
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