Fale-nos um pouco de você?
Não sou natural de Pedro Leopoldo. Mas assim me considero, pois a primeira vez que aqui estive foi em meados de 1966, quando fui contratado pela Cia. Industrial para trabalhar na Fábrica de Tecidos Cachoeira Grande.
Em princípios de 1968 saí de Pedro Leopoldo. Voltando para cá em fevereiro de 1975, para trabalhar novamente na Fábrica Cachoeira Grande, onde permaneci até 1992, quando infelizmente a mesma veio a falir.
Trabalhei mais um ano na indústria têxtil, vindo a seguir me
aposentar. Parti então para novos desafios, lecionando inglês no Free Way por 8
anos e depois ingressei no Hotel Tupyguá onde trabalhei por 10 anos.
Em meados de 2012, assumi definitivamente a minha condição de aposentado, passei a me dedicar ao estudo da Mobilidade Urbana Sustentável, tendo como objetivo pessoal, mostrar aos cidadãos e gestores pedroleopoldense o erro que estamos cometendo com a nossa cidade em transformá-la em uma cidade rodoviarista.
As ciclovias e o micro ônibus sendo
implementados em Pedro Leopoldo estarão contribuindo de alguma forma para fazer
com que as pessoas adotem o estilo de vida desmotorizado na cidade?
Certamente, sim.
E o que constatamos é que a implantação de
ciclovias estimulará mais gente a usar a bicicleta na cidade. De 334 pessoas
entrevistadas, em enquete por mim realizada, 69% disseram que usariam mais a
bicicleta e menos o carro.
Além disso, esse uso se tornará mais frequente e maior
com o tempo, pois as ciclovias segregadas farão as pessoas se sentirem mais
seguras e mais confortáveis andando de bicicleta em Pedro Leopoldo.
No caso dos micro ônibus confortáveis, isso também
fica claro, pois nem todos gostam ou podem andar de bicicleta.
Quais são as características de
uma cidade mais humana e inclusiva? E como, urbanistas, planejadores e
incorporadores podem projetar e desenvolver ruas que estimulam a caminhada e o
uso da bicicleta?
Há muitos exemplos ao redor do mundo, onde mais ruas que se
recriam para pedestres e ciclistas. Entre muitos fatores e elementos que elas
possuem em comum, o mais importante é o gerenciamento da velocidade dos
veículos. Quando a velocidade dos carros excede os 36 quilômetros por hora, a
qualidade humana nas ruas começa a perder; o barulho aumenta, tornando as
conversas mais difíceis; além do perigo que cresce de forma exponencial,
tirando as pessoas do espaço público. Uma vez que as pessoas passam a evitar a
rua. Você perde um ciclo virtuoso de pessoas atraindo pessoas e,
eventualmente, entende que a perda dessa experiência destruirá um bairro e até
uma cidade inteira.
É possível viver sem o carro?
Vou citar o exemplo do jogador de futebol, ídolo do São Paulo,
Raí, (entre muitos outros que temos) que não anda de carro. Morou muitos anos
em Paris e em Londres e por lá ele não tinha carro. Quando voltou fez um
experimento para ver se conseguiria viver aqui do mesmo jeito. Raí descobriu
que essa escolha era maravilhosa, que ele não precisava sofrer atrás de uma
vaga quando saía, se preocupar se o carro seria roubado, se poderia beber ou
não... Ele descobriu que a vida é muito mais livre assim. Hoje ele faz tudo de
bicicleta, inclusive visitar a netinha e diz que largou o carro em prol da
felicidade pessoal.
Pessoalmente, quando você se
deu conta que ruas mais atrativas para caminhar eram determinantes para a
qualidade de vida nas cidades? Por meio de quais ações podemos fazer as pessoas
entenderem isso da mesma maneira?
No meu caso, foram nas minhas viagens à Alemanha onde tive essas experiências reveladoras. Antes de caminhar por aquelas ruas pela primeira vez , eu pensava que ruas eram apenas para os automóveis, pois só conhecia ruas assim aqui no Brasil. Mas as ruas das cidades Alemãs, restringem os carros ao mesmo tempo que permitem ônibus, táxis e, claro, bicicletas. O resultado foi uma revelação: a rua era mais calma, segura e movimentada em um ritmo mais humano. Ao caminhar ou andar de bicicleta por essa rua, você está constantemente fazendo contato visual com outros, vendo rostos, vitrines de lojas e fachadas em uma velocidade em que realmente pode absorver o momento, sentindo-se seguro e respeitado no seu espaço. É uma experiência sútil, mas profunda, que te enriquece em um nível fundamental. Nós somos criaturas sociais por natureza e precisamos andar e interagir com outras pessoas, mesmo que sejam “estranhos”. Todos deveriam poder experimentar algo assim na vida e se dar conta de como as ruas podem ser e o que se perde quando se cede espaço demais para os carros. A melhor maneira de propagar essa ideia é mostrando esse fenômeno.
Na sua opinião, o que é mais
promissor em termos de transporte e mobilidade para áreas metropolitanas
que se expandirão ou venham a surgir?
Até 2030,
espera-se, que a maioria das cidades terão reduzido para 30 km/h os
limites de velocidade de suas ruas. Os benefícios disso para a segurança e a
economia estão se tornando cada vez mais evidentes, e o impacto no tempo de
viagens é desprezível em cidades pequenas iguais à nossa. Também de
maneira significativa veremos a era das “ruas completas”, que fornecem espaço e
prioridade para pedestres, usuários de transporte público e ciclistas junto aos
motoristas. Veremos ruas com vias exclusivas para carros como coisas do passado
e vamos nos perguntar como pudemos planejar e construir ruas sem faixas também
para outras alternativas e amplo espaço público para pedestres. A razão para
isso acontecer é bem simples: as pessoas passarão a votar pensando assim e a se
mudar para ruas, bairros e cidades que reduzem os riscos trazidos pelos carros
e abrem espaços para as pessoas. Cidades que não fizerem isso, vão
ficar para trás e assim estarão falhando em atrair talentos e investimentos.
É possível
mudar a paixão pelo carro em PL?
A paixão da cidade de Pedro
Leopoldo por carros é uma paixão nova(em torno de +-20 anos e devido a isto
acredito ser possível sim mudar essa paixão. Mas ainda assim o desafio é
grande.
Na teoria, sete entre dez pedroleopoldenses aprovam a ideia de trocar o carro pela bicicleta. Mas na prática, nem todos estão dispostos, apesar de Pedro Leopoldo ser uma cidade tradicionalmente de cultura ciclista e o relevo das vias urbanas facilitar a vida delas.
Mudar a dependência do carro em
Pedro Leopoldo vai ser difícil, mas não impossível.
Há mais ou menos 25 anos atrás,
Pedro Leopoldo e Governador Valadares eram as cidades mineiras mais amigas da
bicicleta. De lá para cá sem percebermos, cada ano menos bicicletas e mais
carros nas vias...
Hoje, o excesso de carros e seus
incômodos faz muita gente começar a pensar em utilizar mais a bicicleta
novamente.
Basta para isto uma ajudinha da
administração da cidade em prol da bicicleta e teremos o título da cidade das
bicicletas de volta.
Se isso não acontecer, o que podemos esperar em matéria de
qualidade do ar e mobilidade na cidade?
Acredito não ser necessário responder a essa pergunta,
pois todos já sabem a resposta, não é mesmo?
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