22-Edição Especial 1 - Cidades são feitas para as pessoas
Somos crianças comparados com os Europeus em termos de mobilidade urbana sustentável, por isto estou publicando estas Edições Especiais a fim de que aprendamos com eles e possamos aproveitar muita coisa boa que têm e aplicar em nossa cidade e na nossa vida.
Começarei com essa entrevista
do Dinamarques Jan Gehl a uma brasileira que como eu luta para que as nossas
cidades (Pedro Leopoldo no meu caso e São Paulo no caso dela) se tornem cidades amigas da bicicleta e com isto melhorem em todos aspectos.
Jan Gehl: especialista em criar
cidades melhores
O arquiteto Jan Gehl,
responsável por mudar a cara de Copenhague, nos anos 1960, mostra que as
cidades têm solução e dá a receita: pensar, em primeiro lugar, nas pessoas
Trechos da entrevista com a repórter
brasileira Natália Garcia, que criou o projeto: Cidades para Pessoas.
Você já notou que sabemos tudo sobre o habitat ideal dos
gorilas, girafas, leões, mas nada sobre o Homo sapiens? Qual o lugar ideal para
essa espécie viver? Infelizmente, sabemos muito pouco. Boa parte dos
profissionais que definem o futuro de uma cidade, os arquitetos, urbanistas e
políticos, estão preocupados com outras coisas. Eles querem melhorar o
trânsito, criar "skylines", monumentos, pontes, mas nenhum deles tem
na agenda o item "criar uma cidade melhor para as pessoas
viverem".
E qual seria o lugar ideal para o homem viver?
Certamente não é uma cidade em que se precise passar três horas por dia dentro de um carro preso no congestionamento. Mas uma das coisas que descobri em todos esses anos de trabalho é que precisamos respeitar a escala humana. Em meu livro Cities for People ("Cidades para pessoas") eu falo, por exemplo, sobre a síndrome de Brasília, uma prática repetida em várias cidades do mundo. Brasília nasceu para ser uma cidade planejada, certo? Pois bem, quando a olhamos do céu, ela é incrível, mas quando a olhamos do chão,(esta é a escala humana, quando se olha a cidade do chão e não de um avião ou helicóptero) parece que estamos em uma maquete fora de escala. É tudo grande demais, as distâncias são impossíveis de serem percorridas pelo corpo humano e os monumentos são grandes demais para apreciarmos a partir de nossa altura. Isso sem contar a falta de calçadas e ciclovias. Se você não tem um carro em Brasília, fica impossível se locomover.
A escala humana, então, é a chave para planejar cidades para pessoas?
É uma das chaves. Temos que criar uma mudança de paradigma aqui. Antes de pensar em mais ruas, ciclovias, transporte público ou mesmo na escala humana, é preciso pensar: que cidade queremos? E aí, o que importa não são os elementos do planejamento urbano, mas as coisas que nos fazem viver melhor. Quando os planejadores quiserem chegar aí e não, por exemplo, ao melhor sistema de mobilidade possível, aí sim estaremos em um caminho interessante para melhorar as cidades.
O senhor fala em trânsito, problema grave no Brasil. Quais as soluções para essa questão?
O congestionamento é, sem dúvida, um dos maiores problemas das grandes cidades do mundo. E a chave para resolvê-lo é por mais opções, por mais liberdade de escolha de meios de se locomover do ponto A ao ponto B. Só ciclovias ou só transporte público não resolvem, mas uma combinação dos dois com boas calçadas e vias exclusivas de pedestres começam a deixar a cidade mais interessante e a dependência que se desenvolveu do carro começa a diminuir. Mas, ainda assim, muita gente vai continuar se locomovendo de carro, por comodidade. Então, junto com o aumento de opções de locomoção, é preciso diminuir o uso dos carros, dando menos lugar a eles. Quanto mais ruas, mais carros, quanto menos ruas, menos carros. Se você oferecer infraestrutura, a sociedade vai utilizá-la. Então, tirar espaço dos carros, ou proibir que estacionem nas ruas, são algumas das formas de garantir que eles sejam menos usados, em especial em curtos trajetos. E aí, as pessoas que realmente precisem de um veículo para se locomover, seja porque a distância é longa demais, seja porque é uma emergência, terão espaço para dirigir.
E qual seria o lugar ideal para o homem viver?
Certamente não é uma cidade em que se precise passar três horas por dia dentro de um carro preso no congestionamento. Mas uma das coisas que descobri em todos esses anos de trabalho é que precisamos respeitar a escala humana. Em meu livro Cities for People ("Cidades para pessoas") eu falo, por exemplo, sobre a síndrome de Brasília, uma prática repetida em várias cidades do mundo. Brasília nasceu para ser uma cidade planejada, certo? Pois bem, quando a olhamos do céu, ela é incrível, mas quando a olhamos do chão,(esta é a escala humana, quando se olha a cidade do chão e não de um avião ou helicóptero) parece que estamos em uma maquete fora de escala. É tudo grande demais, as distâncias são impossíveis de serem percorridas pelo corpo humano e os monumentos são grandes demais para apreciarmos a partir de nossa altura. Isso sem contar a falta de calçadas e ciclovias. Se você não tem um carro em Brasília, fica impossível se locomover.
A escala humana, então, é a chave para planejar cidades para pessoas?
É uma das chaves. Temos que criar uma mudança de paradigma aqui. Antes de pensar em mais ruas, ciclovias, transporte público ou mesmo na escala humana, é preciso pensar: que cidade queremos? E aí, o que importa não são os elementos do planejamento urbano, mas as coisas que nos fazem viver melhor. Quando os planejadores quiserem chegar aí e não, por exemplo, ao melhor sistema de mobilidade possível, aí sim estaremos em um caminho interessante para melhorar as cidades.
O senhor fala em trânsito, problema grave no Brasil. Quais as soluções para essa questão?
O congestionamento é, sem dúvida, um dos maiores problemas das grandes cidades do mundo. E a chave para resolvê-lo é por mais opções, por mais liberdade de escolha de meios de se locomover do ponto A ao ponto B. Só ciclovias ou só transporte público não resolvem, mas uma combinação dos dois com boas calçadas e vias exclusivas de pedestres começam a deixar a cidade mais interessante e a dependência que se desenvolveu do carro começa a diminuir. Mas, ainda assim, muita gente vai continuar se locomovendo de carro, por comodidade. Então, junto com o aumento de opções de locomoção, é preciso diminuir o uso dos carros, dando menos lugar a eles. Quanto mais ruas, mais carros, quanto menos ruas, menos carros. Se você oferecer infraestrutura, a sociedade vai utilizá-la. Então, tirar espaço dos carros, ou proibir que estacionem nas ruas, são algumas das formas de garantir que eles sejam menos usados, em especial em curtos trajetos. E aí, as pessoas que realmente precisem de um veículo para se locomover, seja porque a distância é longa demais, seja porque é uma emergência, terão espaço para dirigir.
Parece tão difícil e tão longe
da nossa realidade...
Sim, é um processo complicado. Hoje Copenhague é um exemplo mundial de uma
cidade boa para se viver, mas começamos nossa mudança de paradigma 50 anos
atrás. A chave para que tenhamos chegado até aqui foi dar um passo de cada vez.
Não dá para, de uma hora para outra, proibir os carros de estacionarem nas
ruas. Mas que tal proibir em um bairro? Ou em apenas uma avenida? E, no lugar
onde os carros estacionariam, criar uma ciclovia? Esse acaba sendo um projeto
piloto, as pessoas teriam tempo para se acostumar. E, quando começar a dar
certo, fazemos isso em outro ponto. Pouco a pouco a população vai entendendo
como a cidade pode melhorar. Eu tenho muito orgulho de dizer que moro em uma
cidade que todos os dias é um pouco melhor do que era no dia anterior.
Como a população deve participar do processo da criação de cidades para pessoas?
Como a população deve participar do processo da criação de cidades para pessoas?
É preciso que as pessoas exijam as coisas certas. Se você, por
exemplo, perguntar a uma criança o que ela quer de natal, ela vai te responder
uma lista de coisas que já conhece. Uma criança nunca pediria algo de que nunca
ouviu falar. O mesmo vale para as demandas das pessoas em relação às cidades. É
fundamental que haja informação sobre como uma cidade pode ser melhor para que
a sociedade exija as coisas certas. Enquanto exigirem mais ruas para dirigirem
seus carros, as cidades vão continuar crescendo do jeito errado. Quando
passarem a exigir mais liberdade de locomoção, daí o governo terá que fazer
algo a respeito. Em Copenhague foi assim. Na década de 1970 a cidade estava
tomada pelos carros. Com a crise do petróleo, dirigir ficou muito caro e as
pessoas começaram a exigir infraestrutura para pedalarem em segurança. E as
ciclovias foram, pouco a pouco, tomando o lugar dos carros.
O planejamento urbano pode fazer as pessoas mais felizes?
Planejamento urbano não garante a felicidade. Mas mau planejamento urbano definitivamente impede a felicidade. A pior coisa para a felicidade das pessoas é perder tempo paradas no congestionamento. Se a cidade conseguir diminuir o tempo que você fica parado no trânsito e lhe oferecer áreas de lazer para aproveitar com seus amigos e sua família, ela lhe dará mais condições de ter uma vida melhor. O planejamento urbano é uma plataforma para as pessoas serem felizes.
*BONS EXEMPLOS NA PRÁTICA
A repórter Natália Garcia criou o projeto Cidades para Pessoas. Durante um ano, ela vai percorrer 12 cidades pelo mundo - e morar por um mês em cada uma delas - para buscar ideias. O critério de escolha desses locais foi o trabalho do urbanista Jan Gehl: todos os centros urbanos visitados tiveram sua consultoria ou são considerados por ele boas cidades para viver. Todas as reportagens feitas pelo projeto serão publicadas no site cidadesparapessoas.com.br e licenciadas em Creative Commons para que sejam livremente replicadas.
O planejamento urbano pode fazer as pessoas mais felizes?
Planejamento urbano não garante a felicidade. Mas mau planejamento urbano definitivamente impede a felicidade. A pior coisa para a felicidade das pessoas é perder tempo paradas no congestionamento. Se a cidade conseguir diminuir o tempo que você fica parado no trânsito e lhe oferecer áreas de lazer para aproveitar com seus amigos e sua família, ela lhe dará mais condições de ter uma vida melhor. O planejamento urbano é uma plataforma para as pessoas serem felizes.
*BONS EXEMPLOS NA PRÁTICA
A repórter Natália Garcia criou o projeto Cidades para Pessoas. Durante um ano, ela vai percorrer 12 cidades pelo mundo - e morar por um mês em cada uma delas - para buscar ideias. O critério de escolha desses locais foi o trabalho do urbanista Jan Gehl: todos os centros urbanos visitados tiveram sua consultoria ou são considerados por ele boas cidades para viver. Todas as reportagens feitas pelo projeto serão publicadas no site cidadesparapessoas.com.br e licenciadas em Creative Commons para que sejam livremente replicadas.
Grato por mais uma vez por terem lido mais uma postagem.
Senhor muito grato também.
Amém.
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