segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

44 - O Ponto de Partida da Mobilidade Urbana.

Somos pedestres por natureza (!)...

Embora , com o automóvel sendo utilizado cada vez mais como extensão do corpo humano e as cidades sendo freneticamente redesenhadas unicamente em função deste uso compulsivo, muitas são as pessoas que esqueceram desta prática essencial: a do caminhar.

O ponto de partida da mobilidade urbana é a calçada. É o primeiro espaço público que vivemos ao sair de nossas casas. Se for acessível, é a mais democrática das formas de se mover. É a primeira imagem que temos da cidade.

                              Olhando detidamente para as calçadas que temos hoje,



Para chegar à Pedro Leopoldo que Queremos, precisamos ter antes um olhar crítico para entender os erros que temos cometido e do porquê de nossas calçadas não expressarem a imagem dos valores humanos, os sentimentos de comunidade, o orgulho pelas suas raízes, a solidariedade, o sentimento de pertencimento e o desejo de viver o espaço urbano. Assim, a forma como é pensada, planejada e construída a calçada, determina a intensidade com que as pessoas vivem e amam “coletivamente” a cidade.

A Pedro Leopoldo que Queremos precisa provocar o prazer de viver nela, amá-la, não no sentido romântico, mas no sentido prático. E só conseguiremos isso estando fora de nossos carros, sendo pessoas e não motoristas.


Pela forma como realizamos a cidade hoje, tendo o carro como valor determinante para a decisão da mobilidade, vivemos os paradoxos de automóveis cada vez mais rápidos, mas parados em congestionamentos, com pessoas muito próximas, mas com cidadãos infinitamente distantes uns dos outros, solitários, inertes, tensos, sem viver a cidade e o coletivo, que é o motivo de nos aglomerarmos nas urbes.

 Não queremos mais andar a pé, as calçadas não nos animam. Queremos estacionar dentro das lojas, pois não gostamos de andar pela cidade. Queremos parques e praças, mas com grandes áreas de estacionamentos, pois não queremos viver a cidade, queremos só usá-la para nosso deslocamento, em nossos carros.

A Pedro Leopoldo que Queremos tem que partir da premissa de planejar a mobilidade urbana não só para que ela se movimente, mas também com o valor fundamental de humanizá-la. Unir a necessidade de deslocamento com o prazer de viver a cidade. E isso só se consegue levando as pessoas ao contato coletivo, de andar a pé, de bicicleta, de transporte coletivo (seja ele qual for).

Diriam que estou fora da realidade, pois precisamos de nossos automóveis. Mas eu responderia que este artigo é para a Pedro Leopoldo que Queremos como cidade coletiva, e não individual. A cidade individual é essa que vivemos hoje, isolados em nossos confortáveis automóveis. Nos é ofertado escolher entre ônibus caro e desconfortável; bicicleta em disputa perigosa do espaço com a moto e o automóvel; e andar a pé por calçadas mal pavimentadas, com degraus e buracos, ou simplesmente inexistentes, tendo como agravante a falta de iluminação.

As opções oferecidas nos empurram aos nossos confortáveis automóveis particulares, que, como donos da cidade, ocupam e destroem o piso das calçadas, estacionam sobre elas, não obedecem a faixa de circulação de pedestres. Vivemos então um círculo vicioso que de novo nos empurra para os automóveis, sem percebermos que dentro ele nos traz conforto e fora, ele provoca desconforto. Não vivemos no automóvel, vivemos na cidade, portanto, vivemos a maior parte do tempo em desconforto.

Imaginemos essa Pedro Leopoldo como ficará daqui a oito anos, com o dobro de automóveis existente hoje.

 A Pedro Leopoldo que Queremos, portanto, deve, obrigatoriamente, ter calçadas:

• Planejadas com acessibilidade, em respeito a todos os seus cidadãos, principalmente os que têm mais dificuldades físicas ou visuais, até porque temos uma expectativa de vida cada vez maior.
• Com árvores para amenizar o calor e faixa de ajardinamento para humanização e contenção de água das chuvas.
• Com espaços para bancos, para que nossos idosos possam descansar.
• Com iluminação para passeios e atividades físicas noturnas.



Concluindo: calçadas acessíveis e democráticas, arborizadas e prazerosas, iluminadas e seguras, com espaço de convívio e conforto, como fator de saúde, por proporcionar o caminhar. Com faixas de travessias, preferencialmente elevadas, para beneficiar o pedestre, completadas e compartilhadas com ciclovias, interligadas a outros modais de transporte coletivo acessível, confortável e rápido. Assim, viveremos e valorizaremos nossos bairros e seu comércio, pois teremos o prazer de ir a pé até ele tendo um convívio coletivo.
Calçadas, como todos sabem, são um instrumento de mobilidade urbana para estimular o caminhar, a forma mais simples, sustentável e sadia de transporte. E, como já escrevemos, são um dos principais indicadores da qualidade de vida em qualquer localidade.
Em nossa visão, as calçadas das ruas centrais, centros de bairros e aquelas próximas a áreas de grande circulação de pedestres deveriam ser mantidas diretamente pelo poder público para a garantia de um único padrão de qualidade, segurança e conforto.
A Pedro Leopoldo que Queremos é uma cidade para ser vivida e não para ser usada só como espaço para circulação.


Fontes:
  •  Adaptado do texto original de : Mário Cezar da Silveira  especialista em acessibilidade.
  • Movimento Inclua-se

Um comentário:

Unknown disse...

O abandono que Pedro Leopoldo vive não é de hoje. Arrisco a dizer que se intensificou muito nas últimas administrações, a partir de 2005 para cá.
A atual administração tem a chance de mudar esta história. Basta ler e aplicar as ideias e conceitos deste blog.