Somos pedestres por natureza (!)...
Embora , com o automóvel sendo utilizado cada vez mais como extensão do corpo humano e as cidades sendo freneticamente redesenhadas unicamente em função deste uso compulsivo, muitas são as pessoas que esqueceram desta prática essencial: a do caminhar.
O ponto de partida da mobilidade urbana é a calçada. É o primeiro espaço público que vivemos ao sair de nossas casas. Se for acessível, é a mais democrática das formas de se mover. É a primeira imagem que temos da cidade.
Para chegar à Pedro Leopoldo que Queremos, precisamos ter antes um olhar crítico para entender os erros que temos cometido e do porquê de nossas calçadas não expressarem a imagem dos valores humanos, os sentimentos de comunidade, o orgulho pelas suas raízes, a solidariedade, o sentimento de pertencimento e o desejo de viver o espaço urbano. Assim, a forma como é pensada, planejada e construída a calçada, determina a intensidade com que as pessoas vivem e amam “coletivamente” a cidade.
A Pedro Leopoldo que Queremos precisa provocar o prazer de viver nela, amá-la, não no sentido romântico, mas no sentido prático. E só conseguiremos isso estando fora de nossos carros, sendo pessoas e não motoristas.
Não queremos mais andar a pé, as calçadas não nos animam. Queremos estacionar dentro das lojas, pois não gostamos de andar pela cidade. Queremos parques e praças, mas com grandes áreas de estacionamentos, pois não queremos viver a cidade, queremos só usá-la para nosso deslocamento, em nossos carros.
A Pedro Leopoldo que Queremos tem que partir da premissa de planejar a mobilidade urbana não só para que ela se movimente, mas também com o valor fundamental de humanizá-la. Unir a necessidade de deslocamento com o prazer de viver a cidade. E isso só se consegue levando as pessoas ao contato coletivo, de andar a pé, de bicicleta, de transporte coletivo (seja ele qual for).
Diriam que estou fora da realidade, pois precisamos de nossos automóveis. Mas eu responderia que este artigo é para a Pedro Leopoldo que Queremos como cidade coletiva, e não individual. A cidade individual é essa que vivemos hoje, isolados em nossos confortáveis automóveis. Nos é ofertado escolher entre ônibus caro e desconfortável; bicicleta em disputa perigosa do espaço com a moto e o automóvel; e andar a pé por calçadas mal pavimentadas, com degraus e buracos, ou simplesmente inexistentes, tendo como agravante a falta de iluminação.
As opções oferecidas nos empurram aos nossos confortáveis automóveis particulares, que, como donos da cidade, ocupam e destroem o piso das calçadas, estacionam sobre elas, não obedecem a faixa de circulação de pedestres. Vivemos então um círculo vicioso que de novo nos empurra para os automóveis, sem percebermos que dentro ele nos traz conforto e fora, ele provoca desconforto. Não vivemos no automóvel, vivemos na cidade, portanto, vivemos a maior parte do tempo em desconforto.
Imaginemos essa Pedro Leopoldo como ficará daqui a oito anos, com o dobro de automóveis existente hoje.
A Pedro Leopoldo que Queremos, portanto, deve, obrigatoriamente, ter calçadas:
• Planejadas com acessibilidade, em respeito a todos os seus cidadãos, principalmente os que têm mais dificuldades físicas ou visuais, até porque temos uma expectativa de vida cada vez maior.
• Com árvores para amenizar o calor e faixa de ajardinamento para humanização e contenção de água das chuvas.
• Com espaços para bancos, para que nossos idosos possam descansar.
• Com iluminação para passeios e atividades físicas noturnas.
Concluindo: calçadas acessíveis e democráticas, arborizadas e prazerosas, iluminadas e seguras, com espaço de convívio e conforto, como fator de saúde, por proporcionar o caminhar. Com faixas de travessias, preferencialmente elevadas, para beneficiar o pedestre, completadas e compartilhadas com ciclovias, interligadas a outros modais de transporte coletivo acessível, confortável e rápido. Assim, viveremos e valorizaremos nossos bairros e seu comércio, pois teremos o prazer de ir a pé até ele tendo um convívio coletivo.
Calçadas, como todos sabem, são um instrumento de mobilidade urbana para estimular o caminhar, a forma mais simples, sustentável e sadia de transporte. E, como já escrevemos, são um dos principais indicadores da qualidade de vida em qualquer localidade.
Em nossa visão, as calçadas das ruas centrais, centros de bairros e aquelas próximas a áreas de grande circulação de pedestres deveriam ser mantidas diretamente pelo poder público para a garantia de um único padrão de qualidade, segurança e conforto.
A Pedro Leopoldo que Queremos é uma cidade para ser vivida e não para ser usada só como espaço para circulação.
Fontes:
- Adaptado do texto original de : Mário Cezar da Silveira especialista em acessibilidade.
- Movimento Inclua-se
Um comentário:
O abandono que Pedro Leopoldo vive não é de hoje. Arrisco a dizer que se intensificou muito nas últimas administrações, a partir de 2005 para cá.
A atual administração tem a chance de mudar esta história. Basta ler e aplicar as ideias e conceitos deste blog.
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