Habitação, trabalho, lazer e
locomoção. São essas as quatro funções sociais de uma Cidade estipuladas
na Carta de Atenas, documento firmado em 1933, durante o 4º Congresso de
Arquitetura Moderna. Todas estão previstas no Artigo 182 da Constituição brasileira,
mas cada uma delas ainda é um objetivo a ser garantido para a maior parte da
população. Em Pedro Leopoldo, a Mobilidade Urbana vem gerando debates nos
diversos setores da sociedade, trazendo à tona um conceito que parece novo, a
Mobilidade Humana.
O tema, nos alerta para a reocupação do espaço público, e assim permitir a segurança gerada pela presença
da própria população nas ruas e olhar a Cidade sob uma nova perspectiva.
Na minha visão, pensar em Mobilidade
Humana é exercer a democracia. Todos nós somos pedestres, não importa o modal
que você use, no momento em que desce do carro, por exemplo, torna-se um. É
preciso pensar a mobilidade de uma cidade sob a perspectiva do ser humano,
projetar e construir espaços públicos para garantir locomoção e acessibilidade.
E isso é ser democrático.
A expressão é mais do que um simples
trocadilho, é um esforço para expor a importância de ajustar as políticas de
mobilidade urbana às necessidades das pessoas. É um apelo para que se promova a
estrutura necessária não só para veículos individuais, mas também para os
transportes coletivos e não motorizados, como a bicicleta e o próprio
caminhar. A ideia já está prevista na PNMU – Política Nacional de
Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2012), mas ainda não é o que acontece em Pedro
Leopoldo.
Segundo dados do Denatran em 2013, a cidade
contou com uma frota de mais de 27000 mil veículos para uma população aproximada de 62000 habitantes. Dos modais
contabilizados, os carros representam mais de 50%, enquanto os ônibus representam apenas 1% dos veículos. Ainda assim, são eles que carregam,
diariamente, mais pessoas.
Por que usamos carro e não transporte público, ou caminhamos ou pedalamos, já que a área central da cidade é toda
plana e de dimensões acanhadas, 2 km de comprimento e 950 m de largura.
No caso particular do Brasil, a partir
dos anos 50, a política urbana voltou-se para o sistema rodoviário, abandonando
os bondes e o sistema ferroviário das periferias das cidades. A escala humana e
coletiva foi perdida e criou-se uma nova ordem, baseada no automóvel.
Buscávamos um modelo de transporte
eficiente para a indústria de base da época. E nos últimos 10 anos, ainda houve
o incentivo para a classe média também adquirir carros. A estrutura chegou a um
esgotamento e só agora estamos nos dando conta de que esse modelo não é bom.
Do ponto de vista do direito administrativo, o uso atípico de uma via
pública é estacionar. O uso normal é circular, seja a pé, de bicicleta, de
carro, ou de ônibus. As pessoas estacionam em um espaço que custou alguns
milhões à sociedade e ninguém tem cobrado nada por isso.
QUE MOBILIDADE QUEREMOS?
A mobilidade urbana deve ser para
todos. Qualquer cidadão deve ter a sua disposição um sistema de transporte
público eficiente, rápido, seguro e com uma tarifa acessível. Também deve ser
financiada por todos e ser sustentável. A afirmação ganha força com o Artigo 5. da PNMU que, entre outras coisas, garante: acessibilidade universal; desenvolvimento
sustentável; segurança nos deslocamentos das pessoas e justa distribuição dos
benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços.
Então, o que falta para efetivar a
mobilidade que queremos e que a lei defende? É preciso que nossa Prefeitura
tenha coragem de equilibrar a distribuição das vias entre os diferentes modais.
Os automóveis representam apenas 30% da população, mas ocupam 70% das vias.
As
ciclofaixas são apenas uma pequena parte da solução, a bicicleta precisa estar
integrada ao sistema de transporte público e a saída deve passar por uma
questão chamada integração modal.
Além disso, é preciso ter uma calçada decente,
árvores que aliviem a sensação de calor, iluminação e segurança pública, para
que seja possível, inclusive, o transporte a pé. A cidade precisa ser receptiva
de tal forma, que o pedestre não seja inibido. É preciso devolver vida às
ruas.
Bibliografia consultada: O Estado Verde, por Candice Machado
Um comentário:
O incentivo ao consumo, especificamente à compra do automóvel 0km por parte dos governantes representa uma boa parte do crescimento exagerado da frota que temos hoje. Basta ter "nome limpo" que a pessoa sai hoje de uma concessionária de carro novo sem deixar 1 real sequer naquele momento. Põe-se o carro na rua e só depois ver como pagar, e se pagar... a inadimplência atual... nem se fala
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