segunda-feira, 17 de março de 2014

52 - ANDAR DE BICICLETA, SINAL DE POBREZA?


“Quando percebi, estava sozinho, dentro do carro, novamente preso no trânsito. Eu era gerente de uma grande empresa, e ostentava um belo carro. Alguns subordinados já haviam me convidado para, juntos, irmos trabalhar de bicicleta. Relutei, pois eu tinha o poder dentro da empresa, e achava que, ao pedalar, iria depreciar minha imagem. Grande erro meu! Descobri que era pobre de mentalidade, e pobre de amizades, afinal, meu carro me afastava das pessoas, e me impedia de desfrutar o trajeto.”
Certa vez, o filósofo Rousseau se propôs a estudar as origens das desigualdades. Concluiu que, na sociedade humana, concebem-se dois tipos de desigualdades. Uma, considerada natural ou física, é estabelecida pela natureza, e trata das diferenças de idade, saúde, qualidades físicas do corpo, etc. Outra, que nomeou de desigualdade social, depende de uma espécie de convenção, como se as pessoas consentissem com o que é estabelecido. Desta forma, a desigualdade social acontece quando algumas pessoas, mais ricas, honradas, gozam de privilégios, com prejuízo de outras pessoas mais pobres, necessitadas.
A bicicleta, sendo promotora de saúde, opção de mobilidade sustentável, e meio de preservação do meio ambiente, deveria ser um veículo de grande prestígio social. Mas esse prestígio ainda é ofuscado pelo preconceito que algumas pessoas têm, e que geralmente nasce da ignorância, ou seja, de não conhecer os benefícios e não admitir ou aceitar diferenças. O preconceito gera discriminação. No caso da bicicleta, discriminar significa não tê-la como veículo, como oportunidade de locomoção. Voltando aos conceitos de desigualdade, significa afirmar que privilégio é ostentar um carro que vale muito mais que a bicicleta.
Alguns utilizam a bicicleta como lazer, nos finais de semana, ou como uma breve atividade física, mas não como veículo de locomoção. Outras apontam o perigo no trânsito, as mudanças climáticas (chuva repentina ou sol muito forte), as distâncias, a falta de preparo físico ou a inexistência de locais próprios para as bicicletas, como motivo para não pedalar. Realmente, existem alguns obstáculos no caminho do ciclista, como também existem obstáculos para os motoristas de carros, motos, usuários de metrô, etc. Conforme afirma o filósofo Isah Andreoni, “o verdadeiro obstáculo, que nos impede de inserirmos a bicicleta em nossa rotina, está em nossas cabeças, nas associações que imediatamente estabelecemos em relação à bicicleta, tendo o carro como referência”.

Fonte: Revista Bicicleta.

2 comentários:

Unknown disse...

Excelente artigo!para mim a causa do preconceito contra a bicicleta como meio de locomoção também é culpa do grande status dado pela mídia ao carro,assim desvalorizando os outros meios de locomoção, e supervalorizando os carros.

Unknown disse...

Assino embaixo Paulinho!