“Quando percebi, estava sozinho, dentro do carro, novamente preso no trânsito. Eu era gerente de uma grande empresa, e ostentava um belo carro. Alguns subordinados já haviam me convidado para, juntos, irmos trabalhar de bicicleta. Relutei, pois eu tinha o poder dentro da empresa, e achava que, ao pedalar, iria depreciar minha imagem. Grande erro meu! Descobri que era pobre de mentalidade, e pobre de amizades, afinal, meu carro me afastava das pessoas, e me impedia de desfrutar o trajeto.”
Certa
vez, o filósofo Rousseau se propôs a estudar as origens das desigualdades.
Concluiu que, na sociedade humana, concebem-se dois tipos de desigualdades.
Uma, considerada natural ou física, é estabelecida pela natureza, e trata das
diferenças de idade, saúde, qualidades físicas do corpo, etc. Outra, que nomeou
de desigualdade social, depende de uma espécie de convenção, como se as pessoas
consentissem com o que é estabelecido. Desta forma, a desigualdade social
acontece quando algumas pessoas, mais ricas, honradas, gozam de privilégios,
com prejuízo de outras pessoas mais pobres, necessitadas.
A
bicicleta, sendo promotora de saúde, opção de mobilidade sustentável, e meio de
preservação do meio ambiente, deveria ser um veículo de grande prestígio
social. Mas esse prestígio ainda é ofuscado pelo preconceito que algumas
pessoas têm, e que geralmente nasce da ignorância, ou seja, de não conhecer os
benefícios e não admitir ou aceitar diferenças. O preconceito gera
discriminação. No caso da bicicleta, discriminar significa não tê-la como
veículo, como oportunidade de locomoção. Voltando aos conceitos de
desigualdade, significa afirmar que privilégio é ostentar um carro que vale
muito mais que a bicicleta.
Alguns
utilizam a bicicleta como lazer, nos finais de semana, ou como uma breve
atividade física, mas não como veículo de locomoção. Outras apontam o perigo no
trânsito, as mudanças climáticas (chuva repentina ou sol muito forte), as
distâncias, a falta de preparo físico ou a inexistência de locais próprios para
as bicicletas, como motivo para não pedalar. Realmente, existem alguns
obstáculos no caminho do ciclista, como também existem obstáculos para os
motoristas de carros, motos, usuários de metrô, etc. Conforme afirma o filósofo
Isah Andreoni, “o verdadeiro obstáculo, que nos impede de inserirmos a
bicicleta em nossa rotina, está em nossas cabeças, nas associações que
imediatamente estabelecemos em relação à bicicleta, tendo o carro como
referência”.
Fonte: Revista Bicicleta.
2 comentários:
Excelente artigo!para mim a causa do preconceito contra a bicicleta como meio de locomoção também é culpa do grande status dado pela mídia ao carro,assim desvalorizando os outros meios de locomoção, e supervalorizando os carros.
Assino embaixo Paulinho!
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