domingo, 1 de março de 2015

# 82 Bicicleta e a Cidade






Pedro Leopoldo apesar de ter apenas 91 anos, já se tornou uma cidade importante da região metropolitana de Belo Horizonte, mas em pleno século XXI,  estamos perdendo a oportunidade de inovar ou ao menos procurar medidas para romper com o  tradicional sistema de mobilidade urbana, condicionado pela priorização do carro.                                            
Somos uma cidade ainda em fase inicial, repleta de oportunidades, muitos espaços ainda disponíveis, rica em recursos, mas que, no entanto, os agentes produtores do espaço, parecem não perceber que estão adotando um planejamento territorial urbano de baixo desenvolvimento econômico e humano que acaba por resultar em problemas já enfrentados pelas grandes metrópoles, principalmente no que tange à organização espacial da cidade e ao seu sistema de mobilidade.
Para uma mobilidade urbana mais eficiente no contexto da cidade, ao contrário do que muitos gestores públicos acreditam, a bicicleta pode oferecer um conjunto de potenciais que vão muito além da mera redução na emissão de poluentes ou benefícios para saúde do usuário.
O investimento e planejamento de uma cidade voltada para inclusão da bicicleta como um modal urbano e intermunicipal, pode trazer significativas mudanças no próprio modo das cidades crescerem, que até então é segregador, especulador, concentrador de serviços na área central e que expulsa a população de baixa renda para as periferias, criando uma dependência de um transporte coletivo que em geral não atende plenamente aos usuários.
A via pública deve servir para o escoamento dos elementos urbanos como um todo, incluindo o pedestre, os portadores de necessidades especiais e as bicicletas. Entretanto, o que se tem visto é um planejamento da via notavelmente voltado para o carro, em detrimento de um espaço para atender as bicicletas, os coletivos e até mesmo os pedestres.
Isso mostra o segmentado acesso e o direito à cidade, que deixa de ser democrático.
Nesse sentido, o desafio é fazer com que os gestores urbanos e os políticos entendam que investir no incremento de infraestruturas para o uso da bicicleta, bem como incentivar o seu uso não significa apenas atender um pedido de uma minoria que sai às ruas clamando por mais bicicleta e menos carro, mas sim oferecer mais oportunidades e espaço para as bicicletas, visando benefícios que configuram um conjunto de avanços sob os aspectos sociais, econômicos e ambientais.
O meio urbano e a sociedade como um todo poderão ganhar, pois a partir do momento em que o carro não for o modal principal em uma cidade, essa terá uma forma particular de crescer, necessitará de menos recursos financeiros, menos espaço físico, as pessoas poderão interagir e acessar a cidade com melhor fluidez e agilidade, além de ter a oportunidade de se isentar de sérios problemas já tradicionais nas grandes cidades, e que o poder público e a sociedade civil já conhecem, mas que raramente apostam em romper ou inovar.
Uma luz parece ter surgido com a entrada em vigor da Lei 12.587, de 3 de janeiro de 2012, que estabelece a Política Nacional de Mobilidade Urbana, pois obriga os municípios com mais de 20 mil habitantes a elaborarem um plano de mobilidade integrado ao Plano Diretor Municipal. E o mais importante, esse plano deve priorizar o transporte coletivo e incentivar o uso de meios de transporte alternativo como a bicicleta, em detrimento do uso do veículo automotor.
Segundo o Artigo 23, inciso I e III, os entes federativos estarão livres para taxar a circulação de automóveis em determinadas áreas da cidade, fato que deveremos considerar uma importante alternativa, uma vez que utilizar o espaço público urbano com um automóvel individualmente por várias horas tem o seu preço.


artigo modificado do original da
Revista Bicicleta por Fernando César Manosso

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