sábado, 29 de novembro de 2014

# 80- Infraestrutura ciclística - Porque quem não anda de bicicleta devia apoiar

Em 1950, a população brasileira era de 52 milhões, e a maioria vivia na zona rural. E em 2013, a população brasileira ultrapassou 200 milhões, com cerca de 85% residindo na área urbana. Este é o resultado do êxodo rural que exigiu cada vez mais planejamento urbano. A estratégia inicial, nas décadas de 1960 e 1970, foi investir vultuosamente em alargamentos de ruas, vias expressas e acessos rodoviários nas cidades, contribuindo grandemente para a formação da cultura do automóvel. A prática persistiu nas décadas posteriores, gerando e agravando problemas de congestionamento e acessibilidade. O modelo continua em voga até hoje, apesar de ser incoerente com a nova realidade do cenário urbano.

É aceitável que, no século passado, o setor responsável pelo planejamento das cidades priorizasse o carro e nem suspeitasse de que isso era um erro. Entretanto, há muito tempo que outros países já passaram por este ciclo de aprendizagem, sofreram com a invasão automobilística e perceberam que deviam apostar em soluções e alternativas. Não era necessário chegar à calamidade que se instaura na mobilidade urbana brasileira, bastava uma visão de futuro para aprender com os erros dos outros.
O movimento ciclístico no Brasil, que felizmente é crescente, mostra que uma parcela da população tem esta visão de futuro, está um passo à frente da maioria e aposta na bicicleta como um meio de transporte no cotidiano. Mas a verdade é que nem todos compartilham desta preferência. Seja por limitações físicas, outros obstáculos ou pela simples escolha de não fazer da pedalada um hábito, algumas pessoas simplesmente não querem andar de bicicleta. Para muitos – pelo menos, por enquanto – é inimaginável trocar o carro pela bicicleta.
Muitas vezes, nós insistimos em como convencer mais pessoas a pedalar, e esta é uma missão importante. Mas há outra questão relevante: como convencer as pessoas que não pedalam a apoiar também o investimento em infraestrutura ciclística? A ONG People For Bikes elencou cinco pontos que ciclistas podem usar a seu favor:

1 - A infraestrutura ciclística cria mais espaço na estrada para os carros

Se analisarmos as cidades amigáveis à bicicleta, perceberemos que como a maioria da sua população anda de bicicleta, o tráfego de carros é melhor. A ausência de milhares de carros a mais nas ruas, substituídos pelas magrelas por boa parte da população, diminui o congestionamento e a poluição da cidade.

2 - A infraestrutura ciclística cria empregos

Construir ciclovias, elaborar ciclofaixas, bike box e implantar outros mobiliários urbanos pensados para ciclistas cria mais empregos que a construção de rodovias. Os negócios e empregos gerados refletem na economia local, como lojas e fábricas, e incrementam a demanda por serviços de urbanistas, engenheiros de tráfego, contadores etc.

3 - As rotas para bicicletas, bem projetadas, tornam o caminho mais seguro para todos

Quando Nova Iorque implantou ciclovias protegidas na 9ª Avenida, em Manhattan, esperava-se que as pistas tornassem o deslocamento em bicicleta mais seguro. O que, de fato, aconteceu, foi que o trajeto se tornou mais seguro para todos, com redução de 56% nas lesões por acidentes de trânsito. Dados semelhantes podem ser obtidos em outros lugares do mundo, provando que quando o caminho está preparado para receber os ciclistas de maneira segura, ele é, na verdade, seguro para todos os seus usuários.

4 - A atividade física contribui para uma comunidade mais produtiva

Ser ativo melhora a capacidade de concentração e produção, e ajuda a afastar a depressão e ansiedade. A bicicleta é uma maneira fácil e prática de incorporar a atividade física na vida diária. Isto reduz os custos de saúde pública, torna a mão de obra das empresas mais produtivas e aumenta a qualidade de vida de todos. Até mesmo as crianças se beneficiam e têm um desempenho escolar melhor, quando são ativas e andam de bicicleta.

5 - A infraestrutura ciclística é bem mais barata

Qualidade de vida para todos
Outro fator importante que pesa para que ciclistas e não ciclistas apoiem a implantação de infraestrutura cicloviária é a qualidade de vida, intimamente relacionada à mobilidade urbana. O jornal mexicano La Jornada exemplifica com o caso da Cidade do México. Em 2010, a esquecida região em que se encontra o Monumento à Revolução ganhou infraestrutura ciclística. Logo, alguns comércios foram abertos e o local que era considerado de risco se converteu em um espaço público convidativo à convivência dos cidadãos. Leia-se, de todos os cidadãos, e não apenas dos ciclistas.
Ciclistas e não-ciclistas ganham em qualidade de vida quando a cidade aceita uma estrutura de mobilidade socialmente efetiva. Quando o poder público prioriza a mobilidade individual motorizada, ao invés de gerir um transporte coletivo de qualidade e incentivar modais alternativos, como a bicicleta, está na verdade acentuando as diferenças entre as classes sociais, ao invés de compensá-las. Além disso, esta situação prejudica a qualidade de vida urbana por não atender ao princípio de sustentabilidade, em seu tripé ambiental, social e econômico.
O planejamento urbano não pode continuar priorizando o automóvel, nem devemos viver a ilusão de que a bicicleta é solução para tudo. O urbanista dinamarquês Jan Gehl certa vez declarou que “é preciso que as pessoas exijam as coisas certas. Se você, por exemplo, perguntar a uma criança o que ela quer de natal, ela vai responder uma lista de coisas que já conhece. Uma criança nunca pediria algo de que nunca ouviu falar.
O mesmo vale para as demandas das pessoas em relação às cidades. É fundamental que haja informação sobre como uma cidade pode ser melhor para que a sociedade exija as coisas certas”. Uma cidade melhor para todos precisa oferecer a oportunidade de cada um se locomover como preferir, e que cada um tenha informação e consciência para saber fazer a escolha certa.


revista Bicicleta por Anderson Ricardo Schörner

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

# 79 - UM VEÍCULO TRANSFORMADOR


São inúmeras as características atribuídas à bicicleta: revolucionária, libertadora, sustentável. Porém, apenas uma engloba seu significado de forma mais ampla: transformadora. A bicicleta tem o poder de transformar tanto a vida de uma só pessoa, como de uma cidade inteira.
Quem se rende aos encantos de pedal dificilmente consegue se desvencilhar dele, e acaba ganhando um aliado da saúde. E não se trata apenas da saúde física. A bicicleta ajuda a combater problemas como obesidade, reduz riscos de doenças cardíacas, melhora o condicionamento físico e ainda ajuda a deixar o corpo em forma. Para a mente, o resultado é menos estresse, mais sensação de liberdade. Em cima de uma bicicleta, o contato com a cidade e com as pessoas que nos rodeiam é imensuravelmente maior do que em qualquer outro meio de transporte. Apesar de ser um veículo individual, a bicicleta é a que mais beneficia o coletivo.
O papel transformador da bicicleta sobre uma cidade passa por diferentes fatores, um deles é a economia. Segundo a escritora do livro Bikenomics: How bicycling can save the economy (Bicieconomia: Como a bicicleta pode salvar a economia), Elly Blue, a bicicleta é uma poderosa ferramenta para frear gastos públicos e individuais. “Investimentos para melhorar a circulação de carros são altos e o retorno é muito baixo. Esse gasto só aumenta cada vez mais. Em compensação, o investimento em infraestrutura para bicicletas é baixo e oferece um retorno alto. Mais bicicletas é melhor para todos, até para quem não pedala”, afirma ela.
A melhor forma de incentivo ao uso da bicicleta é o investimento em infraestrutura adequada e segura. O arquiteto dinamarquês Lars Gemzoe, reconhecido internacionalmente por seus trabalhos em qualidade de vida nos espaços públicos, também acredita que a bicicleta é uma ferramenta de transformação. Copenhague, capital da Dinamarca, é considerada a cidade onde há mais pessoas utilizando bicicletas como meio de transporte no mundo e é modelo em infraestrutura para este tipo de deslocamento.
Investimento em infraestrutura cicloviária, combinada com melhoria no espaço para pedestres, impacta também no comércio local. Lars Gemzoe defende que um dos principais motivos desse beneficiamento é o fato de que, facilmente, um ciclista vira pedestre e pode empurrar a sua bicicleta pela calçada. 
Além de promover um exercício físico diário e ajudar a combater problemas como obesidade, a bicicleta pode ajudar a reduzir os níveis de poluição na cidade e, consequentemente, reduzir a ocorrência de doenças causadas por ela. Segundo dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), 90% da poluição do ar em São Paulo vem dos carros. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os elevados níveis de poluição na cidade de São Paulo são responsáveis pela redução da expectativa de vida em cerca de 1,5 ano.
O stress causado pelo trânsito e o tempo perdido nos deslocamentos também impactam negativamente na produtividade dos trabalhadores. 
Mas para a bicicleta transformar uma cidade, a cidade também precisa se transformar para recebê-la, tratando-a como tal, um veículo de baixo custo, de propulsão humana, que oferece mais liberdade e mais saúde, mas que é frágil diante dos demais. Entendido isto, os benefícios vem em cascata.
Por Pensamento Verde.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

# 78 - As Mudanças geradas pelas ciclovias segregadas


O aumento recente do número de ciclistas nas cidades brasileiras coloca em pauta a necessidade de uma infraestrutura cicloviária que proporcione mais segurança aos trajetos em duas rodas e que conviva pacificamente com quem se desloca a pé, em transporte público ou de carro.
Para conhecer soluções para esta necessidade, é útil ver o que têm feito outras cidades em relação a esse assunto.
Assim, mostramos a seguir um estudo que revela algumas cifras dos efeitos positivos gerados pela implementação de ciclovias segregadas das pistas dos veículos automotores em cinco cidades estadounidenses, onde não apenas os trajetos se tornaram mais seguros, como também o número de ciclistas aumentou.
Uma ciclovia garante mais segurança às pessoas que se transportam pela cidade de bicicleta?
Esta foi a principal questão da enquete realizada pelo acadêmico Christopher Monsere, da Portland State University, como parte de uma pesquisa que buscava conhecer as consequências da implementação de ciclofaixas em Austin, Chigaco, Portland, São Francisco e Washington. Cabe mencionar que algumas destas cidades não apenas não contavam com ciclovias segregadas, como em certos lugares não havia ciclovia alguma.
A segurança efetivamente se tornou uma realidade e, se analisarmos os números, os resultados são muito encorajadores para se considerar as ciclovias uma opção para as cidades brasileiras.
De acordo com os resultados, nas novas ciclovias segregadas o número de ciclistas passou de 21% para 171% nos casos mais extremos. Além disso, através de enquetes pôde-se determinar que os cidadãos que optaram pela bicicleta como meio de transporte – e que utilizavam outro meio de transporte motorizado – representam 10%.
Assim, o estudo permite concluir que as ciclovias segregadas não apenas fazem com que os ciclistas se sintam mais seguros, como também incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte público.
fonte: Revista da Bicicleta| Revista da Bicicleta

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

# 77 - DEIXEM EM PAZ QUEM PRECISA DO CARRO!

 Revista Bicicleta por André Geraldo Soares

26/06/2014
Deixem em paz  quem precisa do carro!
Foto: Charnsitr / Shutterstock.com
É comum a queixa, por parte dos motoristas, de que o discurso ciclístico não considera que o carro é uma necessidade. “Eu preciso do carro, não posso pedalar nem andar de ônibus”, dizem uns. “Nós temos pressa, não atrapalhem o nosso trânsito”, imploram outros. Pois bem, por defendermos que a sociedade não pode abrir mão do carro, vou me aliar aos queixosos e pedir: ei, motoristas que não precisam usar carros, deixem em paz quem precisa deles!
Ou seja: ao invés de se fazerem de vitimados pelos ciclistas – que não pedem mais que seu justo quinhão –, quem precisa do automóvel deve reclamar com quem verdadeiramente paralisa e parasita a cidade e transforma a vida de todo mundo em um inferno.
Num extremo: ambulâncias precisam do trânsito desobstruído, entregadores de materiais de construção precisam de local para estacionar, mecânicos de elevadores têm pressa para liberar pessoas presas nos elevadores. E no outro extremo: dondocas que vão passear no shopping não precisam ir de carro, jovens sarados e sem outro compromisso não precisam de carro para cursar uma universidade, não dá pra cada membro da família ter seu próprio carro.
Entre um extremo (a sociedade precisa do carro) e outro (os motoristas paralisam a sociedade) existem infinitos casos, que ilustram tanto os benefícios e potencialidades dessa extraordinária ferramenta tecnológica que é um veículo a motor, quanto a incrível capacidade que o ser humano tem de desperdiçar recursos e de atrapalhar a vida alheia.
Não se pode afirmar, sem mais, que um carro é uma necessidade. Necessário é aquilo que não pode deixar de ser ou de se fazer, aquilo do qual não se pode abdicar, o que é essencial e imprescindível. Ora, muito poucos usos do carro cabem nessa definição.
Em primeiro lugar e diretamente porque uma boa parte do que é definido como necessário não passa de comodidade, de falta de hábito ou de pura preguiça. E, de forma ampla, porque a atual dependência do carro é originada do modelo de mobilidade urbana implantado pelo Estado para gerar o consumo de carros. Assim sendo, o que é necessário mesmo, mas mesmo realmente, é privilegiar o transporte público e o transporte a propulsão humana, para que os carrodependentes não possam alegar falta de condições para deixar de usar o carro.
Ou seja, quanto mais eficientes, confiáveis, seguros, confortáveis e baratos forem os ônibus, o ciclismo, as calçadas e as próprias ruas, mais pessoas poderão migrar do congestionamento e da guerra que causam para a fluidez e a paz que o transporte público, a bicicleta e o caminhar proporcionam.
Nós não precisamos, nem conseguiremos, definir com exatidão o que é um uso necessário do carro, menos ainda impedir que quem não se encaixe nesse perfil use o carro. Mas é plenamente possível planejar uma cidade e oferecer mais de uma alternativa adequada para as necessidades de deslocamento de cada cidadão.
Portanto, antes de tudo, é preciso pesquisa, levantamento de dados sobre a mobilidade urbana: conhecer a quantidade, funções, extensões, destinos e rotas dos deslocamentos que os membros das famílias fazem cotidianamente. Só assim será possível dimensionar o transporte público e a infraestrutura cicloviária, só assim tais modalidades poderão ser desenhadas de forma adequada e tornarem-se atraentes mesmo para quem tem crise de abstinência quando está longe da cabine do seu possante.
Mas é preciso querer essa transformação e, receitinha da autoajuda, correr atrás do seu desejo. Quem tira o carro da garagem todo dia está respaldando o modelo automotivo e, mais do que autorizando, solicitando que os gestores públicos canalizem mais grana para viadutos, vias expressas e estacionamentos. Quem afirma que não deixa o carro porque o transporte coletivo é ruim e porque a bicicleta é perigosa, este elemento está enganando tanto a si próprio quanto aos seus concidadãos, porque quem é maior de idade já teve experiência social suficiente nessa vida para saber que a prefeitura não vai democratizar a cidade sem a pressão social nesse sentido.
Os ciclistas ativistas também se compadecem de quem fica preso inutilmente no asfalto, além de lamentarem a energia e a matéria prima consumidas em vão e as toxinas e dejetos danosamente emitidos por um sistema que não funciona e nunca vai funcionar em lugar nenhum. E muitos desses ciclistas até estariam dispostos a abandonar os motoristas no buraco em que se meteram se eles não levassem, com isso, toda a sociedade para lá. Já há ciência suficiente e ética inquestionável para demonstrar o apocalipse motorizado, a tal ponto de podermos duvidar da sanidade de quem não as considera.
Então, se não for pelos ciclistas e pelos pedestres, que vocês desdenham em atos e omissões, que seja em favor de vocês mesmos: motoristas, deixem em paz quem precisa do carro.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

#76- Um Novo Movimento para uma Nova Cidade: A Redistribuição do Espaço dos Carros



As cidades precisam redefinir sua relação com o carro – dando lugar a uma direção que 
se adapte às cidades, e não cidades que se adaptam aos carros. Isto não significa proibir os carros de vez, mas lembrar às pessoas que quando dirigem nas cidades, elas e seus carros 
devem agir como convidados.
O carro é essencial para  trajetos que envolvem cargas pesadas e volumosas. A comodidade e a flexibilidade que o carro proporciona significa que sempre estará presente de um jeito ou de outro.
Necessitamos, sem dúvida, começar a abordar algumas das ineficiências inerentes a um sistema de transporte dominado pelos carros. O carro ocupa muito espaço e, na maioria do tempo, sem estar em movimento.
Se o tempo do carro particular acabou, a era das bicicletas está apenas começando. As bicicletas, o exemplo mais claro de transporte individual, são eficientes no uso do espaço, genuinamente de emissão zero, saudáveis, sociáveis, acessíveis e divertidas.
Se as cidades estão compreendendo o potencial da bicicleta como forma de transporte massivo, então precisam tornar-se  acolhedoras para os ciclistas de todas as idades e graus de habilidade. Criar condições para o ciclismo massivo implica reduzir a velocidade e o volume do tráfego em todas as ruas e construir ciclovias, independentes onde as condições as tornem necessárias.
O espaço da rua nas cidades é uma mercadoria valiosa e altamente disputada, por isso é necessário ser remanejado para criar condições melhores para pedestres e ciclistas e melhorar a qualidade do transporte público.
A redistribuição do espaço do automóvel poderá ajudar a restaurar a função original 
das ruas das cidades: lugares para pessoas e atividades, assim como do tráfego. 
As ruas são lugares complexos, onde as exigências de muitos usuários devem ser equilibradas.
Todo tipo de ação temporária nas ruas, por exemplo; o fechamento temporário de ruas para os carros tem um papel muito importante de ajudar as pessoas a imaginar um futuro diferente, um no qual o equilíbrio exista, colocando as necessidades dos pedestres acima das dos motoristas.
Desde os anos 60 e 70 muitas cidades redefiniram sua relação quanto ao carro e hoje estão em harmonia com o mesmo. Tem caminho à frente cidades como a nossa, que estão apenas no início do processo, as quais  não devem se dar ao luxo de esperar.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

# 75 - CONSCIENTIZAÇÃO E DIÁLOGO, NÃO PERCAMOS TEMPO!!!



Há alguns anos vemos crescer em Pedro Leopoldo movimentos por melhoria do transporte público, por melhores condições para os transportes não motorizados, como as bicicletas e os deslocamentos a pé e por uma mudança radical no modelo predominante de mobilidade na cidade.

Os  congestionamentos que ainda são pequenos mas que com o passar dos meses só aumentam (150 novos veículos em circulação cada mês), os acidentes e mortes no trânsito , mostram que a situação é mesmo preocupante.

Pedro Leopoldo com uma área central plana e de modestas dimensões (2km²), é um cenário ideal para a locomoção de pedestres e ciclistas também, e não só para o carro. Temos que superar a visão e o pensamento  de muitos que veem e pensam que a bicicleta é somente um instrumento de lazer, um brinquedo.

Pedro Leopoldo sempre teve a cultura da bicicleta como meio de transporte, mais até do que como lazer. Muito usada por estudantes para seus deslocamentos até os estabelecimentos de ensino, muito usada também por trabalhadores da extinta fábrica de tecidos, da cimenteira  Camargo Correa, hoje Intercement, por funcionários da Precon, da Incopre, e de muitas outras empresas.

Para aumentar  os deslocamentos de pedestres e ciclistas, com consequente diminuição no deslocamento do transporte individual motorizado, há necessidade de uma transformação cultural e estrutural profunda. E não se consegue tais mudanças sem conflitos. E isto nos faz pensar; "é o que as administrações que passaram e a atual não querem enfrentar".

Afinal o espaço da rua é finito, e para implementar passeios, implantar ciclovias e ciclofaixas é necessário se tirar espaço de circulação ou de estacionamento de carros, o que deixa muita gente de prestígio e influência na cidade, insatisfeita.

Para começar as mudanças e termos menos insatisfação popular, é necessário  ouvir as pessoas em um debate produtivo orientado por técnicos especializados, para um maior proveito das  sugestões apresentadas.


Obrigado Pai, por mais esse.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

#74- A BICICLETA E A FAMÍLIA.

Com tantos incentivos para viver de maneira individualista e virtual, as famílias têm sofrido com a carência de interação e a falta de diálogo. Nesse contexto, uma atividade ao ar livre, como andar de bicicleta, pode ser um bom pretexto para um programa saudável com os familiares



Um dos fatores que mais influencia em nossa felicidade e bem-estar, segundos estudos e pesquisas diversas, é o convívio com a família. A Associação Americana do Coração, por exemplo, comprovou que idosos têm uma recuperação bem mais rápida após um derrame se estiverem acompanhados por parentes. A Universidade de Oregon, EUA, também evidenciou que bebês que têm pais com dificuldades de relacionamento sofrem mais com distúrbios de sono.
De fato, a família é - ou deveria ser - a organização mais valiosa e importante para nós. É essencial cultivar o relacionamento com nossos entes queridos, aprofundar os laços que nos ligam e despender o tempo necessário para aproveitar bons momentos com qualidade ao lado das pessoas que nos estruturam.
Mas como ter um bom convívio familiar, em um mundo que incentiva o individualismo e até o distanciamento entre as pessoas? A virtualidade das relações toma conta inclusive da família; as tecnologias que permitem aproximar quem está longe, também afastam quem está perto. Para driblar um pouco essa negligência que adotamos em nossa postura sociável dentro da própria família, muitos buscam realizar programas ou tarefas em conjunto, como o ato de andar de bicicleta. Pedalar é uma atividade física prazerosa, que já traz muitos benefícios para pessoas de todas as idades: quanto mais representa quando utilizada para reunir os familiares?
Saliente-se que apenas executar qualquer tarefa em conjunto não é a solução: é preciso que ela permita um bom diálogo, momentos de compartilhamento de experiências e sentimentos, admiração e respeito mútuo, bom-humor, afeto e disponibilidade. A bicicleta possibilita esses momentos em uma atmosfera de lazer, o que também é importante para que os familiares percebam que podem se divertir juntos, e que não devem ser companhia apenas nos momentos difíceis.
Em um mundo agitado, divertir-se com uma criança - e como uma criança - tem o efeito de deixar o dia mais leve, tirar a tensão e experimentar uma liberdade criativa e espontânea que a maioria vai perdendo conforme envelhece. Para as crianças, a brincadeira é uma maneira de descobrir o mundo, desenvolver-se nos níveis sociais, físicos e psíquicos. Brincando, ela aprende a se comportar diante de outras pessoas, descobre talentos e vocações, desenvolve sua espontaneidade, entende que às vezes precisa tolerar e compreender o outro, tudo isso de maneira prazerosa.

"Brincar de bicicleta" também é uma oportunidade educativa. Os adultos podem aproveitar uma volta de bike para ensinar os direitos e deveres no trânsito, conhecer e aprender sobre os lugares visitados e até mesmo sobre pequenos ajustes na magrela. O vovô e a vovó também podem participar. Ele pode contribuir com sua experiência na hora de fazer um pequeno ajuste, e ela pode contar algumas histórias. A bicicleta permite que pessoas de várias faixas etárias possam interagir, vivenciar e compartilhar alegria, prazer e descontração. Além disso, o exercício físico e a interação social são muito importantes para os idosos.

Fonte:  Anderson Ricardo Schörner , a quem agradeço pela consultoria.


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

# 73 - POR MAIS AMOR ÀS CIDADES.



Quando falamos da necessidade de implantar espaços seguros para a bicicleta e colocar o pedestre como referência no planejamento, fazemos uma declaração de amor à cidade. A bicicleta é um vetor de ocupação do espaço que trará as pessoas às ruas, facilitará às novas gerações a descoberta da história da cidade, da geografia, dos rios e da vida urbana como um todo.
Deixar o carro para as verdadeiras necessidades é crucial. Precisamos entender isso e garantir as prioridades já estabelecidas pela lei da mobilidade urbana: prioridade do não motorizado sobre o motorizado; do coletivo sobre o individual.
Pensando isso em termos de nossa cidade de Pedro Leopoldo, inserir as bicicletas nas vias lentas é o caminho natural para criar uma rede de acesso à cidade, integrando aos poucos a bicicleta com o próprio transporte coletivo, com bicicletários nos terminais, com as futuras bicicletas compartilhadas e com as redes cicloviárias dos bairros. Precisamos urgentemente tornar a bicicleta uma opção segura para a população de Pedro Leopoldo. Criar essas estruturas irá induzir o uso de um modal que favorece a autonomia, a saúde e a ocupação cidadã do espaço público; melhora o trânsito e o ar que respiramos; dessa forma, deve ser entendido como política transversal de mobilidade, saúde, segurança e meio ambiente.

O mais importante disso tudo talvez seja a discussão que se coloca sobre a mortandade no trânsito no Brasil. Precisamos reafirmar a discussão sobre morte zero no trânsito e, para que isso não seja apenas uma utopia, precisamos de políticas públicas que acalmem o trânsito nas cidades. A Via Calma é exemplo de ação que fortalece essa discussão. Isso não é apenas sobre bicicletas, é sobre uma nova forma de nos relacionarmos com a cidade.


"Devolver as cidades aos seus habitantes é um desafio global que trás obrigatoriamente ao debate a readequação dos espaços urbanos e a reavaliação da matriz viária. A conhecida bicicleta recupera seu espaço, sequestrado pela cultura automobilística adicionando elementos simples e fundamentais para a percepção da urbes e efetivo aumento da qualidade de vida pessoal e comunitária, além de eficiente meio de locomoção."- Antonio Filho - IDBIKE.

Grato Senhor por mais esse. 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

# 72 - A CIDADE QUE QUEREMOS


Faça parte da mudança, saiba como tornar a cidade de Pedro Leopoldo mais amiga das pessoas.
Experimente novas formas  de se deslocar de casa para o trabalho ou outros afazeres. Opte pela bicicleta, mas se não der, caminhe, vá de patins, de skate, patinete ou de lotação. Deixe o transporte individual para situações realmente necessárias, pois há quem use o carro para ir a lugares próximos sem pensar em outras opções, congestionando o trânsito. Isso é educação em transporte: saber qual é o meio mais eficiente para cada viagem. E ao dirigir, respeite os ciclistas, os pedestres e todos aqueles que optam por outra alternativa.

Será que chegaremos a ter esse respeito e educação?
Acredito que sim, pois hoje vemos nas ruas de cidades brasileiras, coisas imagináveis há 10 anos atrás, tanto em infraestrutura como em comportamento. Há bicicletas compartilhadas em muitas cidades brasileiras por exemplo, como também ciclofaixas e ciclovias sendo implantadas e projetos de leis criadas para atender à mobilidade sustentável.

Como será a nossa cidade de Pedro Leopoldo no futuro?
Se mantido o padrão atual de mobilidade urbana, em 5 anos ou em até menos, tudo vai parar pois não conseguiremos circular bens e pessoas e assim a qualidade de vida será muito ruim. Porém acredito em um segundo cenário, com uma nova mobilidade, melhor qualidade de vida e com circulação eficaz.
Devemos sonhar e lutar para desfrutarmos de uma cidade onde todos possam deslocar-se facilmente e estar em ruas com segurança. E isso é possível.

Técnicos e políticos que perceberem que precisamos de uma  cidade mais humana, que conhecem a fundo o assunto e o levarem a sério, serão os que se destacarão no futuro.

E qual o maior desafio?
É mostrar que as cidades estão em crise de mobilidade. É convencer as pessoas que é preciso repensar urgente o uso do automóvel. Desejamos uma cidade e, permitimos que outra se implantasse. Esse foi o grande erro que cometemos e que hoje temos que corrigir, pois senão os nossos filhos e netos não terão a oportunidade de desfrutar de uma vida melhor.

Obrigado Senhor por mais esse.


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

# 71 RUA É LUGAR DE GENTE!


Rua Duque de Caxias - Foto - Cecília Sá PereiraDisponibilizar mais espaço para as pessoas e menos para o carro faz parte de uma nova concepção de cidade sustentável, que vem revolucionando cidades em todo o mundo. Ruas que antes eram entupidas por carros e se transformaram em espaços de convivência com mais qualidade de vida para as pessoas.
Foi assim em Nova York e Portland, nos Estados Unidos; Madri, na Espanha; Munique e Erlangen, na Alemanha,  entre outros. Mas temos exemplos também no Brasil. Curitiba no Paraná desde a década de 1970, na área portuária do Rio de Janeiro, o antigo viaduto da perimetral foi destruído para dar lugar à urbanização do espaço com o projeto Porto Maravilha e uma área antes degradada promete levar as pessoas de volta às ruas. São Paulo também já dispõe de uma proposta semelhante com o projeto Casa Paulista.

 O fato é que todos esses exemplos revelam o antes e o depois e remetem a mudanças difíceis de se imaginar para quem só enxerga carro na frente. Além disso, há uma pergunta inevitável: para onde foram todos eles?  A verdade é que as cidades que se voltam para as pessoas têm seus caminhos renovados e outras formas de deslocamentos se tornam possíveis.

Em Pedro Leopoldo, a sugestão e a necessidade é transformar parte da Comendador Antonio Alves em calçadões, privilegiando os pedestres e ciclistas, transformando estes espaços em espaços de permanência e não só de passagem. Com isto muitos dos atuais semáforos poderão ser retirados, melhorando o fluxo dos automóveis.


Espaços contemplados com árvores, calçadões, ciclovias, praças ou cafés podem ter distâncias percorridas sem muito esforço e o carro dificilmente fará falta. No lugar dele, transportes coletivos compatíveis com o lugar, que se adapta perfeitamente às vias urbanas. Já está na hora de olhar a cidade  com mudanças no seu cotidiano de forma permanente.



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

#70 - A MOBILIDADE POR BICICLETA NÃO SE RESTRINGE SOMENTE ÀS VIAS.

Artigo modificado do original, publicado em 23\03 – Revista Bicicleta – Roberto Furtado.
Quem utiliza a bicicleta no cotidiano, certamente terá uma grande identificação com este tema. Já tem algum tempo que a bicicleta ganha atenção com veículo de deslocamento urbano em muitos estados do Brasil e no exterior. Aqui no país do improviso e do caos no trânsito, novas políticas deveriam surgir para que a mobilidade urbana por bicicleta fosse visivelmente crescente. Uma cidade cuja mobilidade possui qualidade e eficiência traz frutos positivos para a sociedade. Mais bicicletas nas ruas, com a devida segurança em foco, haveria menos engarrafamentos, com um sistema de transporte coletivo menos saturado em horário de pico, e outros tantos de uma conduta geral mais coerente. Esta melhoria envolve todas as classes sociais, então, percebe-se a importância da bicicleta como proposta de mobilidade para a sociedade.
Para que   a bicicleta seja uma opção a mais para o trânsito, será preciso que duas questões andem combinadas de forma satisfatória. É preciso que as vias comportem os ciclistas de forma segura, seja pela educação dos condutores e pedestres ou por espaços adequados para a finalidade ciclística.
A mobilidade não se restringe às vias! Muitas vezes o ciclista dispões do interesse em utilizar a bicicleta como veículo, mas chegando ao destino encontra outro problema. Onde estacionar a bicicleta? Possuir um local adequado para acomodar a magrela e ir ao encontro do real objetivo parece ser outro grande desafio do ciclista. A solução é bem mais simples que a própria mobilidade, no entanto, este é um assunto completamente esquecido. Rara são as empresas e instituições, públicas ou privadas, que oferecem algum tipo de estacionamento para a bicicleta. Os bicicletários, quando existem, em sua maioria são ineficientes ou inseguros.
É preciso criar alternativas viáveis para uso da bicicleta. Estas alternativas geram facilidades na mobilidade urbana de ciclistas, que por sua vez resultam em outros benefícios que se estendem à toda sociedade. As opções de locação de bicicletas com pontos distribuídos por toda cidade, bicicletários de qualidade e ciclovias seguras, formam uma “trama” que viabiliza o uso deste veículo.
Algumas empresas compreendem o valor de um estacionamento seguro. Um estacionamento de bicicletas, com direito a segurança, coberto para evitar que a bicicleta fique exposta ao clima enquanto aguarda o retorno do seu usuário.
Precisamos destacar que a bicicleta simboliza uma sociedade sadia, pois se traduz em um carro a menos no estacionamento de determinado ambiente! A bicicleta representa estacionamentos menores, menos lotados! Representa ruas de fluxo mais livre, representa um cidadão com mais saúde, um ar menos poluído e também menos ruído.
Para que a magrela seja cada vez mais viável nas ruas de uma cidade que cresce como a nossa, será preciso abrir os braços para ela. Receber a bicicleta em sua empresa, em seu local de trabalho, e na sua vida, será gratificante para si e os demais. Enquanto você realiza a tarefa necessária, seja de trabalho ou compras para o lar ou estudar ou comparecer a uma consulta marcada com seu médico, a bicicleta deverá estar segura em algum estacionamento específico. Fechar as portas para o veículo através da inexistência de bicicletário de qualidade terá resultados desfavoráveis à mobilidade do ciclista. E sem hipocrisia, um ciclista na rua representa um carro a menos ou um passageiro a menos no transporte coletivo. O benefício é para a sociedade e não somente para o indivíduo que aposta no veículo do carbono zero.
Este papel de alimentar a mobilidade urbana com conceitos saudáveis é feito por cada um de nós. Nós, ciclistas, motociclistas, condutores de automóveis, passageiros de coletivos, dentre outros, podemos de alguma forma viabilizar o crescimento de ciclistas porque ao fim, todos nós ganharemos.

A socialização da bicicleta é representada por vias receptivas e bons bicicletários. Enquanto formos resistentes a isto a bicicleta ficará intimidada. A oportunidade de contaminar uns aos outros, com a ideia que favorece a todos, continuará “engavetada” como proposta que jamais se concretiza. Sejamos sensatos, precisamos dela, tanto quanto um menino precisa para ser feliz. Esse pensamento é uma garantia de um futuro promissor, com rodas raiadas, bicicletários lotados e ruas quase vazias de automóveis.