quinta-feira, 30 de outubro de 2014

# 78 - As Mudanças geradas pelas ciclovias segregadas


O aumento recente do número de ciclistas nas cidades brasileiras coloca em pauta a necessidade de uma infraestrutura cicloviária que proporcione mais segurança aos trajetos em duas rodas e que conviva pacificamente com quem se desloca a pé, em transporte público ou de carro.
Para conhecer soluções para esta necessidade, é útil ver o que têm feito outras cidades em relação a esse assunto.
Assim, mostramos a seguir um estudo que revela algumas cifras dos efeitos positivos gerados pela implementação de ciclovias segregadas das pistas dos veículos automotores em cinco cidades estadounidenses, onde não apenas os trajetos se tornaram mais seguros, como também o número de ciclistas aumentou.
Uma ciclovia garante mais segurança às pessoas que se transportam pela cidade de bicicleta?
Esta foi a principal questão da enquete realizada pelo acadêmico Christopher Monsere, da Portland State University, como parte de uma pesquisa que buscava conhecer as consequências da implementação de ciclofaixas em Austin, Chigaco, Portland, São Francisco e Washington. Cabe mencionar que algumas destas cidades não apenas não contavam com ciclovias segregadas, como em certos lugares não havia ciclovia alguma.
A segurança efetivamente se tornou uma realidade e, se analisarmos os números, os resultados são muito encorajadores para se considerar as ciclovias uma opção para as cidades brasileiras.
De acordo com os resultados, nas novas ciclovias segregadas o número de ciclistas passou de 21% para 171% nos casos mais extremos. Além disso, através de enquetes pôde-se determinar que os cidadãos que optaram pela bicicleta como meio de transporte – e que utilizavam outro meio de transporte motorizado – representam 10%.
Assim, o estudo permite concluir que as ciclovias segregadas não apenas fazem com que os ciclistas se sintam mais seguros, como também incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte público.
fonte: Revista da Bicicleta| Revista da Bicicleta

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

# 77 - DEIXEM EM PAZ QUEM PRECISA DO CARRO!

 Revista Bicicleta por André Geraldo Soares

26/06/2014
Deixem em paz  quem precisa do carro!
Foto: Charnsitr / Shutterstock.com
É comum a queixa, por parte dos motoristas, de que o discurso ciclístico não considera que o carro é uma necessidade. “Eu preciso do carro, não posso pedalar nem andar de ônibus”, dizem uns. “Nós temos pressa, não atrapalhem o nosso trânsito”, imploram outros. Pois bem, por defendermos que a sociedade não pode abrir mão do carro, vou me aliar aos queixosos e pedir: ei, motoristas que não precisam usar carros, deixem em paz quem precisa deles!
Ou seja: ao invés de se fazerem de vitimados pelos ciclistas – que não pedem mais que seu justo quinhão –, quem precisa do automóvel deve reclamar com quem verdadeiramente paralisa e parasita a cidade e transforma a vida de todo mundo em um inferno.
Num extremo: ambulâncias precisam do trânsito desobstruído, entregadores de materiais de construção precisam de local para estacionar, mecânicos de elevadores têm pressa para liberar pessoas presas nos elevadores. E no outro extremo: dondocas que vão passear no shopping não precisam ir de carro, jovens sarados e sem outro compromisso não precisam de carro para cursar uma universidade, não dá pra cada membro da família ter seu próprio carro.
Entre um extremo (a sociedade precisa do carro) e outro (os motoristas paralisam a sociedade) existem infinitos casos, que ilustram tanto os benefícios e potencialidades dessa extraordinária ferramenta tecnológica que é um veículo a motor, quanto a incrível capacidade que o ser humano tem de desperdiçar recursos e de atrapalhar a vida alheia.
Não se pode afirmar, sem mais, que um carro é uma necessidade. Necessário é aquilo que não pode deixar de ser ou de se fazer, aquilo do qual não se pode abdicar, o que é essencial e imprescindível. Ora, muito poucos usos do carro cabem nessa definição.
Em primeiro lugar e diretamente porque uma boa parte do que é definido como necessário não passa de comodidade, de falta de hábito ou de pura preguiça. E, de forma ampla, porque a atual dependência do carro é originada do modelo de mobilidade urbana implantado pelo Estado para gerar o consumo de carros. Assim sendo, o que é necessário mesmo, mas mesmo realmente, é privilegiar o transporte público e o transporte a propulsão humana, para que os carrodependentes não possam alegar falta de condições para deixar de usar o carro.
Ou seja, quanto mais eficientes, confiáveis, seguros, confortáveis e baratos forem os ônibus, o ciclismo, as calçadas e as próprias ruas, mais pessoas poderão migrar do congestionamento e da guerra que causam para a fluidez e a paz que o transporte público, a bicicleta e o caminhar proporcionam.
Nós não precisamos, nem conseguiremos, definir com exatidão o que é um uso necessário do carro, menos ainda impedir que quem não se encaixe nesse perfil use o carro. Mas é plenamente possível planejar uma cidade e oferecer mais de uma alternativa adequada para as necessidades de deslocamento de cada cidadão.
Portanto, antes de tudo, é preciso pesquisa, levantamento de dados sobre a mobilidade urbana: conhecer a quantidade, funções, extensões, destinos e rotas dos deslocamentos que os membros das famílias fazem cotidianamente. Só assim será possível dimensionar o transporte público e a infraestrutura cicloviária, só assim tais modalidades poderão ser desenhadas de forma adequada e tornarem-se atraentes mesmo para quem tem crise de abstinência quando está longe da cabine do seu possante.
Mas é preciso querer essa transformação e, receitinha da autoajuda, correr atrás do seu desejo. Quem tira o carro da garagem todo dia está respaldando o modelo automotivo e, mais do que autorizando, solicitando que os gestores públicos canalizem mais grana para viadutos, vias expressas e estacionamentos. Quem afirma que não deixa o carro porque o transporte coletivo é ruim e porque a bicicleta é perigosa, este elemento está enganando tanto a si próprio quanto aos seus concidadãos, porque quem é maior de idade já teve experiência social suficiente nessa vida para saber que a prefeitura não vai democratizar a cidade sem a pressão social nesse sentido.
Os ciclistas ativistas também se compadecem de quem fica preso inutilmente no asfalto, além de lamentarem a energia e a matéria prima consumidas em vão e as toxinas e dejetos danosamente emitidos por um sistema que não funciona e nunca vai funcionar em lugar nenhum. E muitos desses ciclistas até estariam dispostos a abandonar os motoristas no buraco em que se meteram se eles não levassem, com isso, toda a sociedade para lá. Já há ciência suficiente e ética inquestionável para demonstrar o apocalipse motorizado, a tal ponto de podermos duvidar da sanidade de quem não as considera.
Então, se não for pelos ciclistas e pelos pedestres, que vocês desdenham em atos e omissões, que seja em favor de vocês mesmos: motoristas, deixem em paz quem precisa do carro.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

#76- Um Novo Movimento para uma Nova Cidade: A Redistribuição do Espaço dos Carros



As cidades precisam redefinir sua relação com o carro – dando lugar a uma direção que 
se adapte às cidades, e não cidades que se adaptam aos carros. Isto não significa proibir os carros de vez, mas lembrar às pessoas que quando dirigem nas cidades, elas e seus carros 
devem agir como convidados.
O carro é essencial para  trajetos que envolvem cargas pesadas e volumosas. A comodidade e a flexibilidade que o carro proporciona significa que sempre estará presente de um jeito ou de outro.
Necessitamos, sem dúvida, começar a abordar algumas das ineficiências inerentes a um sistema de transporte dominado pelos carros. O carro ocupa muito espaço e, na maioria do tempo, sem estar em movimento.
Se o tempo do carro particular acabou, a era das bicicletas está apenas começando. As bicicletas, o exemplo mais claro de transporte individual, são eficientes no uso do espaço, genuinamente de emissão zero, saudáveis, sociáveis, acessíveis e divertidas.
Se as cidades estão compreendendo o potencial da bicicleta como forma de transporte massivo, então precisam tornar-se  acolhedoras para os ciclistas de todas as idades e graus de habilidade. Criar condições para o ciclismo massivo implica reduzir a velocidade e o volume do tráfego em todas as ruas e construir ciclovias, independentes onde as condições as tornem necessárias.
O espaço da rua nas cidades é uma mercadoria valiosa e altamente disputada, por isso é necessário ser remanejado para criar condições melhores para pedestres e ciclistas e melhorar a qualidade do transporte público.
A redistribuição do espaço do automóvel poderá ajudar a restaurar a função original 
das ruas das cidades: lugares para pessoas e atividades, assim como do tráfego. 
As ruas são lugares complexos, onde as exigências de muitos usuários devem ser equilibradas.
Todo tipo de ação temporária nas ruas, por exemplo; o fechamento temporário de ruas para os carros tem um papel muito importante de ajudar as pessoas a imaginar um futuro diferente, um no qual o equilíbrio exista, colocando as necessidades dos pedestres acima das dos motoristas.
Desde os anos 60 e 70 muitas cidades redefiniram sua relação quanto ao carro e hoje estão em harmonia com o mesmo. Tem caminho à frente cidades como a nossa, que estão apenas no início do processo, as quais  não devem se dar ao luxo de esperar.