segunda-feira, 8 de junho de 2015

#88 - A CRIANÇA, A BICICLETA E O ESPAÇO PÚBLICO




Um bike anjo aqui em minha cidade.
De vez em quando, me emociono quando pedalando pela cidade vejo crianças acompanhadas de seus pais passar feliz pedalando sua bicicleta.
Alguém mais cético pode perguntar: e daí? Crianças andam de bicicleta em qualquer lugar do mundo. Tem sido assim há mais de cem anos, ainda mais acompanhados. Mas é que de uns anos para cá no Brasil não é bem assim e aqui em Pedro Leopoldo também. Nas últimas décadas, as bicicletas foram rareando nas ruas da cidade. As que sobraram quase sempre são montadas por adultos, sobreviventes do trânsito conturbado e caótico.
Aos meninos(crianças) sobraram os quintais -ou, mais frequentemente, os quartos. E os videogames. A trilha sonora do espaço público deixou de ser composta por gritinhos agudos e passadas em correria. Há mais de dez anos, só o que se ouve pelas calçadas é o vruuuuum dos motores fumacentos. Tornou-se muito raro ver uma criança em uma bicicleta - a não ser nas periferias pouco urbanizadas ou em praças  muito bem vigiados ou cercados por grades.
Lembro quando essa mudança começou.  Lembro que já havia no final dos anos 90 um certo clamor por "tirar as crianças das ruas". A rua, naquela época, começou a ser vista como um lugar perigoso, uma influência ruim. As grades e os muros subiram,   a sensação de insegurança cresceu e os pais passaram a achar normal manter os filhos fechados em casa ou protegidos pelos muros dos condomínios. E, sem que nos déssemos conta, começamos a achar muitíssimo esquisito pensar diferente disso. Um pai que soltasse seu filho para brincar passou a ser visto como um louco desvairado - mesmo sabendo que a falta de contato com a rua prejudica o desenvolvimento cognitivo de uma criança.
Agora parece que o pêndulo em algumas cidades brasileira começou a voltar. Nesses dias de hoje, é comum receber convites para festas infantis em praças. Vejo em toda parte comunidades se apropriando de espaços públicos e criando lugares agradáveis onde antes só havia aridez. E aí, de repente, a cidade se enche de ciclovias (São Paulo, Rio de Janeiro e outras). E foi em uma delas que vi uma foto de um menino passar de bicicleta, no centro da cidade. E aí me emocionei, e quis estar  junto com o menino aproveitando aquele delicioso  momento em uma bicicleta.

Adaptado do texto de : Denis Russo Burgierman