domingo, 15 de setembro de 2019

#130 Mobilidade Urbana na Terceira Idade

Texto de Thatiana Murillo


A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada pelo IBGE ano passado, mostrou com dados o que a gente já sabia. Aumentou – e muito – a quantidade de idosos no Brasil e com isso a importância dos olhares a mobilidade na terceira idade.
Entre 2012 e 2017, a população de mais de 60 anos subiu em todas as unidades da federação, mas os estados com maior proporção de idosos são o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul. Aproximadamente 19% de suas populações está dentro do grupo de 60 anos ou mais. Não se assuste, os números vão aumentar bastante.
Se por um lado é bom saber que a expectativa de vida deu uma boa esticada - e com saúde podemos aproveitar mais -, por outro a realidade bate à nossa porta e temos consciência de que não estamos preparados para isso. Enfrentamos dilemas sérios  que vão desde a polêmica reforma da previdência até a falta de estrutura do SUS para arcar com esse outro panorama. Como vamos nos organizar?
A falta de planejamento urbano do passado deixou a conta salgada para a população desse futuro rápido que não previmos. Uma cidade confortável, segura e digna para os mais velhos certamente não é nem de longe a nossa cidade do presente. Falta, principalmente, acessibilidade. Se ao nosso redor há vários exemplos de senhores e senhoras plenos de vitalidade, há também muitos casos de pessoas já limitadas pelas mazelas físicas do envelhecimento: artroses, hérnias, osteoporose, cardiopatias, catarata entre outras doenças. Cada uma delas com uma limitação específica para a mobilidade do dia a dia.
Como a cidade não é convidativa nem segura, muitos desses idosos iniciam um lento processo de abandonar as ruas. Aquele passeio que proporcionava bem estar vai ficando complicado. As calçadas têm buracos, torna-se impossível atravessar o sinal verde em 10 segundos, falta corrimão em algumas escadas, à noite não se enxerga nada porque não há iluminação suficiente, o meio fio é alto demais perto daquela pracinha... Ah, melhor ficar em casa. E aí a tristeza vai chegando devagar; nem sempre tem alguém pra conversar, a televisão não é interessante o tempo todo, a família pode estar longe demais. Até que a limitação do corpo se acentua provocando doenças psíquicas e fazendo com que a qualidade de vida caia vertiginosamente.

Infelizmente as políticas públicas não querem saber da medicina preventiva. Não é só viver de dietas e tomar remédios na hora certa. A prevenção envolve também a mobilidade urbana, a socialização e as atividades nos espaços coletivos. São positivos os programas que aqui no Rio instalaram as Academias da Terceira Idade nas praças. Mas isso não basta. É mais importante investir nas pessoas e ampliar o atendimento ao idoso com outros programas, preferencialmente que envolvam também a questão do deslocamento.

Manter as pessoas saudáveis em suas residências será muito menos custoso do que abrigá-las em asilos ou interná-las nos hospitais. Precisamos pensar nisso com urgência e a mobilidade tem papel fundamental nessa mudança.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

# 129 - Como seria a sua cidade se mais pessoas pedalassem?


  • Ruas mais limpas e mais calmas
  • Pessoas mais saudáveis e mais felizes
  • Mobilidade para todas as faixas de idade.
A Embaixada Holandesa de Ciclismo, uma parceria público-privada com sede em Delft, pretende que as cidades de todo o mundo aprendam com o exemplo marcante que a Holanda tem dado ao ciclismo urbano ao longo das últimas quatro décadas. Mas assim como Roma não foi construída em um dia, a reputação de Amsterdã como o lugar mais popular do mundo para se explorar de bicicleta também não o foi. European Business falou com Chris Bruntlett, Gerente de Marketing e Comunicação, sobre como a Holanda se tornou o país número um do mundo em ciclismo e como outras cidades podem se beneficiar da experiência de ciclismo dos holandeses.
European Business: `Como seria a sua cidade se mais pessoas decidissem andar de bicicleta?´ é uma pergunta que você convida os visitantes ao seu site para se perguntarem. Com base na vasta experiência de ciclismo dos Países Baixos, como é que o aumento do número de ciclistas em geral altera a paisagem de uma cidade?

Chris Bruntlett: Como um canadense que recentemente se mudou para a Holanda, eu estou experimentando esta mudança qualitativa em uma base diária. Em primeiro lugar, o aumento do número de ciclistas torna a cidade mais limpa e tranquila e um lugar muito mais agradável para todos, independentemente de você decidir andar de bicicleta sozinho ou não. Todos podem levar uma vida mais feliz e saudável e pessoas de todas as idades - não só as que têm carta de condução, mas também crianças pequenas, adolescentes e idosos - podem circular mais livremente e ter acesso a uma forma de mobilidade que antes não tinham tido acesso.
European Bussiness: Muitos aficionados por bicicletas e especialistas em tráfego urbano nomearão instantaneamente Amesterdão quando perguntados sobre a melhor cidade para explorar de bicicleta. Como é que Amesterdão conseguiu este reconhecimento universal?

Chris Bruntlett: Uma das razões porque Amesterdão é uma grande cidade de bicicleta é porque os seus habitantes decidiram tornar a condução realmente difícil e cara há quarenta anos atrás. Eles aumentaram o custo do estacionamento e reformularam muitos de seus bairros para tornar inconveniente para as pessoas dirigirem. Ao reduzir o número de carros nas estradas e ao abrandar os que ficaram, a bicicleta voltou a prevalecer, como antes da Segunda Guerra Mundial. Conforme o número de ciclistas aumentou, os Amsterdammers usaram esse impulso e identificaram as principais vias que mais precisavam de uma boa infraestrutura para ciclistas, que eles construíram passo a passo durante um período de quatro décadas.

Foi um tremendo esforço geracional, que continua até hoje. O governo municipal anunciou recentemente que iria remover 11.000 vagas de estacionamento nos próximos anos, o que não é apenas politicamente corajoso, mas também outro compromisso irredutível para reduzir o número de veículos motorizados na cidade e tornar a bicicleta, o transporte público e a caminhada as principais formas de locomoção das pessoas. Eu teria o cuidado de manter Amsterdã como uma cidade modelo que pode ser exportada para outros lugares. Muitas das principais razões pelas quais ela se tornou um lugar tão bom para ciclistas - suas ruas estreitas que datam da Idade Média e sua multidão de canais - não podem ser encontradas em outras áreas, especialmente na América do Norte.
O ciclismo urbano holandês pode ser um modelo a seguir.

European Bussiness: A embaixada holandesa do ciclismo tem consultado sobre projetos tão distantes quanto a Turquia e o Panamá. O que as cidades estrangeiras podem aprender com a experiência ciclística holandesa?

Chris Bruntlett: Somos abordados por governos em todos os níveis da hierarquia, desde o nível municipal até o nacional. Eles querem melhorar sua situação de tráfego urbano com um conceito pensado de ciclismo, mas na maioria das vezes eles não sabem por onde começar. Nós os ajudamos a olhar a cidade a partir de uma perspectiva de pássaro e determinar um bom ponto de partida, antes de planejar e projetar rotas adequadas para ciclismo com o objetivo de incentivar as pessoas a mudar de outros modos de transporte, principalmente veículos motorizados, para andar de bicicleta.

Uma vez que tenhamos decidido sobre o macroconceito com nossos parceiros, podemos então lidar com detalhes realmente minuciosos, desde a cor da tinta no asfalto até a posição ideal e a altura dos semáforos. Estes detalhes de design realmente intrincados são explicados nos manuais de design holandeses para o tráfego de bicicletas - algo que muitas outras cidades nem sequer têm, porque os manuais e normas existentes são todos concebidos para mover carros, e qualquer pessoa a pé ou de bicicleta é basicamente considerada um impedimento para esse fim. Assim, uma vez tomada a decisão de melhorar as condições do ciclismo em qualquer cidade, não há melhor lugar para se procurar inspiração do que a Holanda. Dizemos aos nossos parceiros: Não há necessidade de inventar a roda - os holandeses já o fizeram. Eles cometeram os seus erros e descobriram a melhor maneira de o fazer, e agora o resto do mundo pode aprender com essas lições.


artigo publicado por Dutch Cycling Embassy.