quarta-feira, 16 de março de 2022

#155 Para quem são as nossas ruas?

As diretrizes contidas na  lei de Mobilidade Urbana, 12.857/12, colocam as pessoas andando e rodando no topo de uma nova hierarquia de usuários, tornando nossas ruas mais seguras para todos.

Imagine acordar e tropeçar em seu bairro com novos olhos, como se fosse a primeira vez que você o estivesse vendo.



Você caminha pelas calçadas, esquivando-se das placas de rua, lixeiras, buracos, degraus e estacionamento na calçada e absorve o mundo ao seu redor. Esperando por um homem verde para deixá-lo atravessar um cruzamento movimentado - você ouve motores, buzinas e  respira profundamente, o cheiro do escapamento saindo dos canos de descargas dos motorizados, passando ao seu lado.


Se alguém chegasse até você neste momento e lhe perguntasse: “para quem são essas ruas?” -  você seria perdoado por ter certeza da resposta: carros.


Em muitos bairros e cidades brasileiras, nossas ruas se tornaram dominadas por carros. Nossa infraestrutura foi projetada em torno de veículos em movimento da forma mais rápida e eficiente possível, em detrimento de todos os outros.


Tomemos o estacionamento na calçada, por exemplo. Aqueles que estacionam seus carros em calçadas não o fazem porque é um local privilegiado. Eles fazem isso porque estão tentando ser úteis. Com suas mentes focadas nos motoristas tentando navegar em ruas estreitas que nunca foram projetadas para lidar com um tráfego tão pesado, eles fazem o possível para se manterem fora do caminho – para ocupar menos espaço. Mas ao ver a rua como a terra do carro, eles involuntariamente a estragam para todos os outros usuários - como a jovem mãe  empurrando um carrinho de bebê ou o usuário de cadeira de rodas, ou pessoas com dificuldades de locomoção - que dependem do mesmo pavimento para se locomover.


Ao priorizar os carros, despriorizamos todas as outras pessoas que têm interesse em nossas ruas.

Mas não precisa ser assim.

A mudança começa com uma simples pergunta: para quem devem ser nossas ruas? 

A resposta é óbvia: as ruas são para as pessoas.


Nossas ruas são para o homem em sua cadeira de rodas indo para o ponto de ônibus, são para crianças caminhando para a escola,  são  enfim para a jovem mãe que está a passear ou a transportar seu filho pequeno em um carrinho. Sim, nossas ruas são para pessoas que dirigem também. Mas eles são apenas um dos muitos usuários  que merecem o uso seguro e alegre de nossas ruas.

Assim que começamos a ver nossas ruas com outros olhos, nossa imaginação corre solta com as possibilidades desses lugares, e as mudanças necessárias são óbvias.


Precisamos de pavimentos mais largos para quem os usa para se movimentar, conhecer e brincar. Precisamos nos livrar da desordem das ruas, das calçadas, nos livrar dela completamente. Precisamos de menos tráfego e precisamos diminuir a velocidade, para que as ruas sejam seguras para todos.


Em muitos outros  países, as autoridades  estão vendo a necessidade de transformar suas ruas e, melhor ainda, estão fazendo isso. De bairros de baixo tráfego, ruas escolares e centros urbanos para pedestres - muitas de suas ruas não são mais apenas para carros. São para todos.


E enquanto ainda temos um longo caminho a percorrer, o caminho a seguir é claro. Vamos caminhar juntos e sempre alertar e mostrar às pessoas que o século XXI trouxe muitas mudanças e uma Cidade para as Pessoas é a mais importante delas.


Artigo original de Sarah Berry, administradora de Living Streets  a quem peço permissão para adaptá-lo  às condições das cidades brasileiras na tentativa de mudar  o entendimento  sobre para quem são nossas ruas. E assim  poder levar mudanças ambiciosas e necessárias em nossas cidades, vilas e vilarejos.

sábado, 12 de março de 2022

# 154 - Da forma como nos deslocamos na cidade


Há dias, na televisão pública, o Vereador da Mobilidade e Urbanismo de Gent – Bélgica, dizia que foi ameaçado de morte e teve que ter escolta policial quando, em 2017, implementou o plano de tráfego automóvel que proíbe que os carros consigam ir de uma ponta à outra da cidade em linha reta.

Imagine que agora ir de carro do Bairro S.José  ao Final da  Comendador Antonio Alves, obrigava a uma deslocação maior, não sendo permitido fazê-lo em linha reta, mas se se fosse a pé, de bicicleta ou de transporte público se conseguia ir em linha reta..

Os processos de mudança causam sempre desconforto, demora tempo até se criarem novas rotinas, novas dinâmicas, e é habitual que nesse processo o ser humano fique “irrequieto”, chateado e reclame, sendo que alguns ultrapassam até limites aceitáveis de reclamações. No final do processo o objetivo é alcançado e a população acaba por ficar agradada com as novas dinâmicas.

Qualquer cidade que tenha passado pelo processo de mudança do espaço público teve situações semelhantes. 

O espaço exageradamente dedicado ao automóvel leva também a um outro fenómeno, já demonstrado em diversas cidades. As pessoas sentem-se compelidas e obrigadas a andar de carro incutindo-lhes o medo de ir a pé ou de bicicleta.

As pessoas têm até medo de deixar os filhos serem autônomos, nas suas deslocações, ao ponto de os irem levar e buscar à 300m  de distância de  ou para onde se dirigem. 

Ao analisarmos as matrizes origem-destino vemos que 79% das deslocações de carro são urbanas, e em distâncias inferiores a 3 km. Porquê? Porque não temos infraestruturais criadas para potenciar a deslocação a pé ou de bicicleta de forma a garantir que essa deslocação vai ser pacífica, e não vai ser estressante ou perigosa, nem para garantirmos uma deslocação rápida e cadenciada do transporte público.

O fato de estarmos numa cidade já consolidada não é um problema para a reorganização do espaço público. Esta reorganização pode ser feita de forma a serem as pessoas a escolher o seu modo de deslocação, sem terem medo. Não é preciso uma cidade desenhada a partir de uma folha em branco para se fazerem alterações comportamentais nas formas de deslocação.

O século dos túneis, dos viadutos, das variantes acabou. A sociedade quer soluções de transporte público, quer poder usar a bicicleta e andar a pé na cidade.

Qualquer político com visão de futuro, com o olhar no século XXI, aposta nestas três frentes e desiste de apostas no automóvel.


sexta-feira, 11 de março de 2022

#- 153 Planejamento Urbano Sustentável.- PROJ. DE LEI 25/2021

A Câmara Municipal de Pedro Leopoldo aprova a Lei que institui a Política de Mobilidade Sustentável e de incentivo ao uso de bicicletas em Pedro Leopoldo.


O planejamento urbano sustentável significa conexão entre as pessoas, entre os bairros, entre os centros comerciais, educacionais, no transporte e na saúde, entre as classes sociais, entre os recursos.
Dessa forma, as cidades podem atingir níveis mínimos de impacto e ter equilíbrio no uso de seus recursos, e com isso, podem trazer mais bem estar, saúde, felicidade, produtividade e, como consequência, redução dos níveis de violência. Mas para tanto é urgente uma mudança de comportamento.

Muitas outras cidades no mundo já vivem de modo sustentável, com impactos ambientais e sociais mínimos. Geram sua própria energia e reciclam quase 100% dos seus resíduos, como é o caso de algumas cidades alemãs, inglesas e escandinavas. No entanto, foi necessário muito tempo de campanhas de educação e conscientização, além de um apoio profundo e comprometido dos órgãos políticos para que isso acontecesse.

Tem muito cidadão brasileiro que já adota atitudes e hábitos sustentáveis, recicla na medida do possível, evita o uso de carro, faz compostagem doméstica de lixo e isso já faz muita diferença. Isso é ótimo, o caminho é realmente esse! Mas infelizmente, ainda é um número pequeno de pessoas.

Infelizmente, a luta para implementar os conceitos da sustentabilidade ainda é acirrad. como por exemplo, a questão das ciclovias nas cidades brasileiras.  Quanta polêmica traz! Muita gente não concorda com a expansão da rede cicloviária, e nem acha que bicicleta é meio de transporte, mas sim, lazer. E enquanto esse tipo de pensamento ainda transitar pelas mentes dos cidadãos, a sustentabilidade ainda será um futuro e não o presente.

A bicicleta é um meio de transporte que só traz benefícios ambientais, sociais e para a saúde, e é encarada dessa forma por diversas cidades consideradas sustentáveis no mundo. 

Aí está o paradigma que precisa ser mudado. Novas ideias precisam ser abraçadas. A mudança de comportamento, do individual para o coletivo. O “eu” tem que passar a ter menos importância que “nós”. Além disso, as pessoas, nas suas ações do dia a dia, devem se perguntar: se eu fizer isso, quais serão os impactos nas outras pessoas e no meio? Esta simples atitude transformaria a realidade muito rapidamente. A qualidade de vida nas cidades melhoraria muito, a qualidade do ar, da água, do solo. As pessoas teriam menos distúrbios do sono e de ansiedade, e seriam mais saudáveis. E com tudo isso, seria gerada mais abundância e prosperidade, além de ser cultivado um sentimento de bem-estar e pertencimento à cidade.