segunda-feira, 12 de maio de 2014

# 60 - PEDRO LEOPOLDO É UMA CIDADE CICLÁVEL?

Infelizmente a cultura brasileira do uso da bicicleta como modal de transporte ainda é incipiente e isto influi negativamente na visão futurista de nossos administradores municipais.

A questão cicloviária em qualquer cidade brasileira é muito frágil. Não temos planejamento urbano, e a integração das vias é fundamental. A partir de Abril de 2012 temos a Política Nacional de Mobilidade Urbana, lei 12.587/12 que obriga municípios com mais de 20 mil habitantes a priorizar os transportes não-motorizados e também diz que a lei municipal pode ser mais restritiva do que a nacional. O que aconteceu em Pedro Leopoldo é que quando se fez o Plano Diretor em administrações passadas não se incluiu um Plano Cicloviário, apesar de há muito tempo a cidade ter a cultura do uso da bicicleta como modal de transporte, lazer e esporte. O momento para que isto seja corrigido será quando da confecção do novo plano diretor que está prestes a acontecer. Nós cidadãos pedro leopoldense, não podemos deixar de incluir no mesmo um plano cicloviário de qualidade, pois só sendo de qualidade irá ser útil e utilizável e não apenas para "Inglês ver".

Compartilhamento de vias com 30 km/h é vital

Locais com estrutura  para estacionar bicicletas é imprescindível
















A seguir, respondo algumas perguntas que provavelmente muitos de vocês seguidores do meu blog gostariam de me fazer, as quais também creio irá esclarecer melhor a utilidade de se mudar de hábito em prol de uma cidade e uma vida melhor.

Por que a malha cicloviária  não pega no Brasil?
P. Netto — Porque Infelizmente não existe um modelo nacional de planejamento cicloviário. Em diversos países da Europa, existem modelos de como se deve construir uma cidade ciclável. Aqui, estamos meio século longe disso. 
Pedro Leopoldo é uma das poucas cidades mineiras  que tem a sua área central totalmente plana e de curta distancias, o que dispensa o uso do automóvel. Em algumas cidades brasileiras temos um modelo de malha cicloviária que nem o ciclista, nem o motorista de carro e, nem o pedestre entendem. Não há uma integração das vias. Em Pedro Leopoldo, por exemplo, há duas ciclovias que foram construídas há mais de 16 anos e desde então devido à falta de manutenção e sinalização estão totalmente abandonadas. Isso não pode acontecer, tem que ter informação, o ciclista tem que entender o sentido da via. O condutor da bicicleta tem que ser informado da mesma forma que o do carro é por meio de sinalizações viárias próprias.
Malha Ciclovaria (Erlangen -Alemanha). Todas as vias são interligadas e sinalizadas horizontal e verticalmente      
 traços vermelhos: ciclovias, ciclofaixas.

Qual a diferença de uma cidade ciclável e uma cidade com ciclovias?

P.Netto - Para responder a essa pergunta vou fazer uma rápida descrição de uma cidade Alemã   onde todo ano visito e convivo de 2 a 3 meses, utilizando toda forma de transporte alternativo,principalmente a bicicleta.
A cidade ciclável pode ter várias formas de planejamento. Em Erlangen  cidade  Alemã com 105 mil habitantes, definiram que todas as  avenidas tenham velocidade máxima de 50 km/h e nestas avenidas as ciclofaixas são nas calçadas.
Nas vias transversais com menor volume de carros, e com sinalização adequada e com uma velocidade máxima de 30 km/h estas vias são compartilhadas.
Em vias  com muito volume de carros, coloca-se ciclofaixas. Veja as fotos abaixo.


Avenidas velocidade máxima 50 km/h - ciclofaixas na calçada.
Devidamente sinalizada para pedestre e bicicleta.



Vias transversais com pouco volume de trânsito, sinalizadas adequadamente, são compartilhadas onde
os automóveis e as bicicletas compartilham o mesmo espaço com preferência para as bikes.
Vias com maior volume de carros, utilizam-se ciclofaixas, cada modal utiliza a faixa a ele destinado.
No Brasil, as ruas com velocidade máxima de 40 km/h têm que ter ciclovias, senão o ciclista é atropelado. As pessoas não sabem o que querem aqui, e a ausência de um plano nacional atrapalha a integração com o trânsito.  A leitura da bicicleta como um sistema de transporte e o ciclista como parte do trânsito é que faria a cidade se tornar ciclável. Uma cidade ciclável é mais amiga do pedestre e do transporte coletivo. 

Na década de 70, na Holanda, aproximadamente 4 mil pessoas morreram no trânsito. No ano passado, morreram 22 pessoas o ano todo. Para os cofres públicos, cada pessoa acidentada no Brasil custa cerca de R$ 950.000,00 entre ambulância, internação etc. Então calcule o impacto na economia se tivéssemos menos acidentes. A cidade ciclável tem que ter um desenho claro, que seja entendido por todos, não apenas pelo ciclista.

Pedro Leopoldo tem como fazer um plano ciclável?

P.Netto - Pedro Leopoldo, tem como fazer um plano ciclável sim. Não fizeram ainda  porque faltou interesse ou capacidade. Ainda não perceberam como isso é importante para a economia, o que se concretiza em falta de vontade política. Com ciclovias, você tem pessoas mais saudáveis, menos sedentárias e, por consequência, menos doentes. Há um impacto  absurdo de bom na economia. A Alemanha não é rica ou desenvolvida por causa da bicicleta, mas, com certeza, a questão da mobilidade integrada tem sua participação nos indicadores sociais e econômicos. Não é só uma questão ecológica, é econômica também. Por aqui e no Brasil, infelizmente ainda não existe a visão do benefício por parte dos gestores.

Toda a cidade de Pedro Leopoldo pode ser ciclável? 


P.Netto — Com certeza que não, pois há bairros com  lombadas muito fortes, por exemplo a Vila Magalhães e o Bairro Sto Antonio (Cascavel). Mas  pelo  fato de não ter lombadas em sua área central, Pedro Leopoldo é uma cidade  com uma grande vocação para ser ciclável. Pois no caso de alguns bairros onde há lombadas moderadas, as pessoas se adaptam. Se o clima é chuvoso, usa-se capa de chuva. Se é muito quente, usa-se roupa mais confortável. Se tem ladeira, compra-se uma bike mais leve ou elétrica, muda-se a rota. O raciocínio muda, a leitura muda. Nas lombadas dos bairros São Geraldo, e dos que compõem a região norte, por exemplo, tem gente que usa a bicicleta por necessidade, mesmo sem ter as condições ideais. Investir em ciclovias só vai ajudar a melhorar a cidade e diminuir acidentes. Não tem prejuízos, só lucros.
É comum governos demonstrarem resistência pa investir em ciclovias?
P. Netto — A questão é a falta de visão para dar continuidade a uma política que é boa para a população. E falta a população cobrar também. As revoltas que se iniciaram em junho passado eram contra a cidade que se tem. Eram por um bom desenho urbano, uma cidade organizada, um transporte coletivo de melhor qualidade.

O que é ser ciclista hoje em Pedro Leopoldo?

P.Netto - É ser contraventor. É dar um jeitinho, é andar na contramão é atrapalhar o trânsito, é ser excluído do espaço urbano, é não ter local onde estacionar a sua bicicleta corretamente, deixando-a no meio-fio atrapalhando ao automóvel estacionar ou ao pedestre transitar. Se a cidade inclui essa parte( estrutura cicloviária correta), o ciclista é incluído. As cidades brasileiras, só servem à burguesia, pois foram organizadas para a burguesia. O ideal é que o pedestre e o ciclista fossem respeitados, conforme determina o CTB.

A construção de ciclovias é cara? Qual o preço de um km de ciclovia?
P. Netto — Bem isto depende muito do desenho urbano e do tamanho da cidade. Acredito que para o nosso caso de Pedro Leopoldo que cada quilômetro custe em torno de  R$ 50 mil.(falo aqui em construção de ciclovias com qualidade, com sinalizações corretas, verticais, horizontais e de dimensões padrões mínimas). Com R$ 1 milhão, daria para construir 20 quilômetros.  Se o prefeito entender isso como mobilidade e ganho social, ele muda a cidade em quatro anos. É possível mudar no período de uma gestão pelo tamanho da nossa cidade. São dois anos para trabalhar sobre projeto, licitação etc., e dois anos para implantar. Talvez não se faça 20 quilômetros, mas se fizer 15 quilômetros já seria muito bom. É totalmente viável, mas há falta de visão. Ainda tratam bicicleta como brinquedo de criança. Será por que então Holanda, Alemanha,  Dinamarca, Áustria, Estados Unidos, Suécia, Japão e muitos outros países  implantam estrutura cicloviária?

Você já apresentou as suas sugestões aos atuais administradores público?
P.Netto -- Sim, mas meu conhecimento e convencimento na época em que conversei com o executivo de nossa cidade não era tão grande quanto  hoje. Não tive forças para mostrar como isso era importante, talvez por isto não os convenci. A infraestrutura cicloviária tem que fazer parte do processo urbano de uma cidade nos dias atuais pois com tantos veículos motorizados e um transporte público deficiente, uma rede cicloviária seria além de necessária, também de uma grande utilidade.  Então decidi partir para a conscientização da população criando esse blog e uma página no Facebook (UMA NOVA CIDADE), pois se houver usuários conscientizados, naturalmente existirá pressão por um sistema melhor ainda.


Obrigado Senhor, por mais esse.

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