terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

48 - As bicicletas contrastam com a terceira idade?

Fiquei até bastante emocionado ao ler tão belo e importante artigo de: André Geraldo Soares e por isto reproduzo o mesmo e acrescento algumas fotos para ilustrar mais ainda este  emocionante texto. Só quem gosta de pedalar e pertence à terceira idade, como eu, irá absorver  este texto como eu absorví.
 Revista Bicicleta por André Geraldo Soares
Os velhos veículos das pessoas velhas
Foto: Auremar
Por que será que encontramos tantas pessoas de idade avançada usando bicicletas? A bicicleta não contrasta com a terceira idade?
A bicicleta é um veículo mais antigo do que o carro e a motocicleta, os dois principais tipos de veículos motorizados que hoje dominam as ruas de nossas cidades. Depois do barco a remo, a bicicleta é a ferramenta mais antiga da história da humanidade para transportar a si mesmo usando as próprias forças.
Mas apesar de ser antiga, apesar do aparecimento de tecnologias para dispensar o uso dos músculos, apesar da depreciação ideológica sofrida nas últimas décadas, apesar de ser perigoso utilizá-la em muitas vias públicas, a bicicleta continua sendo usada pelos seres humanos, inclusive por anciãos.
Parece óbvio que isso só acontece porque a bicicleta é um veículo não apenas útil, mas, em muitos casos, vantajoso. E, para referendar isso, devemos lembrar que estamos tratando, aqui, de pessoas experientes, de pessoas que avaliam e tomam decisões.
Algumas delas possuem outros meios de transporte – têm carro ou dispõem de transporte coletivo –, mas optam por pedalar, pelo menos de vez em quando. Já outras não podem contar com nada mais além dela – e, neste caso, podemos dizer: que bom que podem contar com ela para não ficarem confinadas em casa!
Seja por opção ou por necessidade, a bicicleta serve adequadamente aos indivíduos, sem provocar efeitos colaterais para a vida comunitária. Desde sua invenção, é um meio virtuoso para fazer exercícios físicos, para gastar energia, para movimentar-se, para romper o sedentarismo, atividades unanimemente consideradas necessárias para quem se aposenta.  Desde que se popularizou, é um meio eficaz de transportar-se e de transportar coisas, de acessar todos os cantos da cidade, de cumprir as funções sociais, funções que mesmo os vovôs e vovós possuem.
Muitos idosos ainda se propõem a mais. É cada vez mais comum a participação de pessoas com mais de 60 anos nos grupos de pedalada e até praticando o cicloturismo. As pedaladas em grupo são geralmente longas (em comparação com os deslocamentos corriqueiros), não raro ultrapassando 20 km, em ritmo mais intenso que os de passeio e de transporte, mas mesmo assim são cumpridas com tranquilidade até por sexagenários. O cicloturismo também não é exatamente uma moleza – as viagens podem durar até vários dias, incluindo trajetos com morros e estradas de terra, mas tais desafios são estimulantes para os vividos.

A humanidade está crescendo não apenas em quantidade, mas em longevidade. O Brasil hoje tem 7,4% de habitantes com mais de 65 anos e estima-se que em 2060 esse percentual atinja 26,7%. Isso significa, em termos de mobilidade urbana, mais pessoas nas ruas durante mais tempo de vida, saturando o trânsito quando as políticas públicas incentivam os veículos motorizados particulares. Resulta daí que a conversão das políticas públicas para a mobilidade ativa – e também para o transporte coletivo – beneficiarão não apenas os indivíduos que se deslocam em vias públicas, mas também o erário, a natureza e nosso orgulho de sermos animais inteligentes.
A infraestrutura social não pode ser planejada apenas para o uso dos adultos em bom estado físico. Assim como os mais jovens, os mais velhos devem ser o foco prioritário dos investimentos, porque o que é bom para eles será sempre bom para quem está na faixa etária intermediária. Por outro lado, agradar apenas quem tem entre 18 e 60 anos resulta, invariavelmente, em prejuízo para quem tem menos ou mais tempo de vida. Por isso estamos autorizados a pensar que deixar de investir em mobilidade ciclística é uma ação, e não uma omissão estatal: uma ação com o objetivo de não deixar a bicicleta exibir suas vantagens e seus benefícios.


Infraestrutura de qualidade, acalmamento do trânsito e educação para a humanização do trânsito não são luxos dispensáveis. São demonstrações de respeito àqueles que chegaram onde todos nós chegaremos, ou queremos chegar.

Um enrugado pedalando é uma demonstração triplamente desagradável para os críticos do ciclismo: prova que o apego ao carro tem um forte componente de comodismo, que a bicicleta não é, em si, um veículo inseguro e que apesar de secular, a bicicleta é tão moderna quanto os carros recém-saídos dos periódicos Salões de Automóveis.

3 comentários:

W. Henkel; Görlitz/Germany disse...

Paulo Netto shows at his articles many examples of measures in cities all over the world how to achieve improvements of the urban mobility. He calls for more money for a better infrastructure and wants to convince people to use the bike instead of cars.
Fewer cars – more bikes reduce air pollution, conserve resources and promote regular physical activity and a healthy lifestyle.

ppnettoblogspot.com.br disse...

My sincere thanks for the comment made.

Unknown disse...

Muito bom este artigo! Nunca tinha visto por esse lado.